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O PT-RJ QUER SER DE FATO UM PARTIDO DE ESQUERDA? | Bernardo Cotrim, Mitã Chalfun e Priscila Borges

photo5035404076145289129A suposta declaração do presidente do PT-RJ, Washington Quaquá, publicada no jornal O Dia, onde cogita a possibilidade de atrair o PMDB fluminense para o apoio à candidatura de Lula em 2018, acenando com a hipótese de uma chapa estadual encabeçada por Eduardo Paes e ensaiando uma tímida defesa do governador Pezão caiu como uma bomba na militância partidária.

Se verdadeira for, a declaração representa um descolamento da realidade tão assustador quanto perigoso: em meio a maior crise da história do Rio de Janeiro, com o estado falido, servidores com salários atrasados, a UERJ sob risco de fechamento e um acordo em curso entre governo Temer e governo Pezão, ambos do PMDB, cujo resultado concreto é um ajuste fiscal draconiano e a venda do patrimônio público, qualquer postura distinta da oposição ao governo serve única e exclusivamente para manter o PT distante da esquerda social, desmoraliza a militância e aprofunda a trajetória eleitoral depressiva em que este pragmatismo às avessas nos mergulhou.

Além disso, é rasteira a visão que compreende o golpe apenas como a derrubada da presidenta Dilma; o golpe é um processo em curso de retomada do projeto neoliberal, criminalização da esquerda e reformas de Estado que, se implementadas (e estão sendo), tornarão as opções políticas de um projeto vitorioso nas urnas matéria vencida, pois um novo arcabouço jurídico-legal será erigido pelos golpistas. O PMDB do RJ é parte ativa desta construção, não uma dissidência aberta e comprometida com um projeto popular (como Requião e parte do PMDB paranaense, por exemplo).

Neste cenário, a necessária ampliação do campo de apoio à candidatura de Lula não se dará nos marcos do pacto social firmado em 2002, tampouco em acordos com protagonistas do golpe. O desenho de aliança estampado nas páginas d’O Dia é um mergulho no precipício: joga o PT definitivamente no poço das legendas eleitoreiras, ferido de morte pela mesma velha política que jurou transformar.

A candidatura de Lula tem como principal ideia-força a defesa do emprego, a retomada do crescimento e da distribuição de renda, a proteção das riquezas nacionais e a radicalização da democracia e da ampliação de direitos; como fazê-lo sem nitidez programática, combatividade política, diálogo franco com a sociedade e organização de um polo de combate ao neoliberalismo?

É preciso, desde já, rechaçar a visão expressa nas páginas do jornal. Contra o pragmatismo rastaquera, que abre margem para posições como a do deputado André Ceciliano, que votou favorável à privatização da CEDAE e, apesar dos fortes apelos de segmentos do partido, recebeu apenas uma inócua “advertência”, devemos impulsionar a retomada dos laços com os trabalhadores em greve, a luta contra o pacote de maldades dos governos do PMDB, o diálogo aberto e franco com os movimentos sociais e a construção de alternativas que enfrentem a crise agravada pela direita, recuperando nossa condição de partido defensor da democracia e da justiça social. Mergulhar nas águas turvas do golpe só pode fazer sentido para setores que perderam a perspectiva da transformação. E estes setores precisam ser derrotados, para o bem do PT e do povo brasileiro.

*Bernardo Cotrim é Secretário de Formação Política do PT-RJ e membro da coordenação nacional da DS; Mitã Chalfun é professor e membro da coordenação estadual da DS; Priscila Borges é cientista política e membro da coordenação estadual da DS.

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