O tema da reconstrução socialista do PT ganha relevo pela proximidade do seu III Congresso, que ocorrerá sob os auspícios do início do segundo governo Lula. A reflexão desse tema, por um lado, potencializa um reencontro, sob novas bases, do PT com sua gênese – imerso nas lutas sociais com vocação transformadora – e por outro, possibilita a construção de alternativas às demandas que estão postas no alvorecer do século XXI, para o conjunto societal, entre as quais se destaca a atualidade da existência de um partido radicalmente metamorfoseador que tenha como horizonte a perspectiva revolucionaria do socialismo.
Antonio S. Carregosa e Frederico L. Romão
Essa discussão contribuirá fortemente para uma reflexão mais acurada dos porquês da crise que fez o PT sangrar nesses dois últimos anos e que não foi superada de todo com a expressiva e revigorante participação dos mais de 300 mil filiados no PED de 2005. Não obstante percebermos mudanças, é visível também a permanência dos métodos e concepções políticas que originaram a crise. Ações de setores do PT em alguns estados e a desastrada atuação dos “aloprados” em plano nacional são prova inconteste dessa continuidade.
Passados mais de 25 anos da sua fundação, é legitimo buscarem-se os dois movimentos: seja o de afirmar o reencontro do PT com sua própria história, seja a atualização de sua radicalidade. A primeira questão se consubstancia no fato de que desde o alvorecer do Partido dos Trabalhadores estava dada a perspectiva socialista, conforme já bem identificado por Fernandes (2006) anos atrás, “Nas condições concretas do Brasil, o PT não só é um partido operário – é um partido que aponta como objetivo central a sua construção socialista”. A segunda questão que trata da radicalização diz respeito à capacidade do partido de dar conta dos novos desafios postos pelo aprofundamento da ação do sistema produtor de mercadorias que, nas últimas décadas, lançou novos tentáculos, a partir da pragmática neoliberal. A superação desse modelo clama por uma ofensiva socialista radical, cujo pressuposto é a existência de instrumentos igualmente radicais à disposição da classe trabalhadora (Mészaros, 2002).
Urge portanto uma reflexão profunda da trajetória do partido, suas experiências com o movimento social; suas ações nos governos e parlamentos; seu papel como instrumento emulador e formador de militância revolucionária; em síntese, é preciso perquerir a inserção contributiva do partido na vida política, social e cultural do país sob o prisma da construção socialista. Discutir o socialismo petista deverá servir para a reformulação dos seus horizontes estratégicos e da suas ações táticas. A resultante desse processo reflexivo deverá reorientar a produção de documentos partidários: programa e estatuto, balisadores de uma nova ética de comportamento militante, reafirmadores dos elos entre a luta de ação direta e a esfera institucional, entre o exercício de governo no estado burguês e as rupturas necessárias para a transformação da sociedade.
Antonio S. Carregosa é bacharel em Ciências Contábeis e membro da Executiva Mun. PT/Paripiranga/BA. Frederico L. Romão é Doutor em Ciências Sociais e membro da Executiva Est. PT/SE.
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