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Os pobres se matam. Os ricos… ​| Dr. Rosinha

Em junho do ano passado​,​ publiquei o artigo ​”​Não ​à​s ​’​reformas​’”​. No artigo​,​ cito o livro ​​América Latina y el capitalismo global: una perspectiva crítica de la globalización (Ed. Siglo XXI, México, 2005), de William I. Robinson.

Na apresentação do livro​,​ Robinson escreve que a crise (econômica) se caracteriza por seis aspectos: (1) Ecológico; (2) Desigualdades globais sem precedente; (3) “A magnitude dos meios de violência, o alcance deles, e sua concentração em mãos de pequenos grupos poderosos, sem precedentes na história”; (4) O sistema capitalista est​á​ “chegando ao limite da expansão extensiva e intensiva…”; (5) Aumenta​m​ as filas dos marginalizados: os que não têm acesso ao trabalho e condenados a serem “supérfluos”, sujeitos a “sofisticados sistemas de controle e repressão –até o genocídio–enfrentando um ciclo de perdas-exploração-exclusão”; e (6) O colapso econômico de 2008 mostrou o desajuste entre a globalização econômica e a autoridade baseada em um Estado-Nação.

No livro​,​ Robinson lembra o estudo da Oxfam publicado em 2015​ que mostra que o 1% mais rico da população mundial possui mais riqueza que o resto do mundo. De 2015 para cá, usando o mesmo método, anualmente a Oxfam tem publicado um relatório sobre a concentração da riqueza no mundo, mostrando que a situação só tem piorado.

Em 2016​,​ o estudo mostra que 62 bilionários (mais ricos do mundo) eram mais ricos do que metade da população mundial. Cabiam num ônibus e todos sentados.

A velocidade da concentração de renda do mundo é escandalosa. Se em 2016 eram 62, em 2017 este número caiu para oito. Esses oito acumulam U$S 426 bilhões, o equivalente à riqueza de 3​,​6 bilhões de pessoas. O mundo tem cerca de 7,5 bilhões de ​habitantes.

O relatório da Oxfam lançado este ano (2018) mostra que 82% do crescimento patrimonial ocorrido no mundo entre 2016 e 2017 foram parar nos bolsos, ou nas contas bancárias, do 1% mais rico. Nesse curto período​,​ este 1% mais rico do mundo acumul​ou​ US$ 762 bilhões. Esse montante seria suficiente para acabar sete vezes com a pobreza no mundo.

Enquanto isso, a metade mais pobre da população do mundo, 3,7 bilhões de pessoas, não ficou com nada.

A concentração da riqueza que se dá no mundo também ocorre no Brasil. Os cinco homens (só homens) mais ricos do Brasil t​ê​m uma riqueza igual ou maior que metade dos brasileiros.

Esses bilionários não ficaram ricos porque trabalham, mas sim por que exploram o trabalho e se apoderam (dos países) dos Estados para coloc​á​-los ​a​ seu serviço. Quando encontram alguma resistência em algum Estado​,​ derrubam o governo resistente. Preferem o caos a um Estado-Nação. O Estado-Nação tem regras, leis e Constituição para serem cumpridas.

O Brasil estava sendo construído, constituído como um Estado-Nação, tanto internamente como externamente. Esse tipo de Estado o capital rentista não tolera. Ele precisa de um Estado a seu serviço ou o caos, onde podem agir sem nenhum controle.

Todos os seis aspectos que Robinson cita est​ão​ explicitado​s​ no Brasil pós-golpe: o meio ambiente sendo entregue ​à​s grandes empresas; as desigualdades aumentaram, só de desempregados hoje são mais de 13 milhões de pessoas; a violência aumentou; o capitalismo es​tá​ sendo intensificado pela entrega das estatais, como a Petrobr​a​s, Eletrobr​a​s, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, ao setor privado; a fila dos marginalizados só faz crescer e com isso os “supérfluos”, sujeitos a “sofisticados sistemas de controle e repressão – até o genocídio”.

Há no Brasil uma guerra em que os pobres se matam e os ricos aplaudem e acumulam mais e mais riqueza. São marginais pobres se matando para o controle das “bocas de fumo” ou se matando no confronto com policiais, também pobres (mal remunerados) como eles. É nesta guerra entre pobres que Temer, o Vampirão, chama o Exército para intervir. Ocorre que os meninos que vão para a guerra também são filhos de (pobres) trabalhadores.

São meninos que saíram de casa para servir o Exército e um dia voltar.

Muitos serão enviados para a guerra: como serão quando voltarem?

Os pobres se matam. Os ricos se tornam mais ricos, inclusive como resultado da guerra.

Dr. Rosinha foi deputado federal por 4 mandatos consecutivos e atualmente é presidente do PT PR.
Artigo publicado originalmente em Congresso em Foco. 

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