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Perda irreparável | Dr. Rosinha

Meu carnaval foi um misto de tristeza e silêncio. Perdi um dos meus melhores e mais atuante amigo, Hermes Gonçalves.

Não lembro o dia em que o conheci ou que o vi pela primeira vez.

Na minha memória está registrado, como sendo a primeira vez, o final do ano de 1989. Na época era vereador e ele passou na Câmara Municipal de Curitiba a caminho de Porto Alegre (RS), ia para ajudar, no segundo turno, a campanha do Olívio Dutra para prefeito.

Este era o Hermes.

De acordo com o poema – Os que lutam – de Bertold Brecht, Hermes era um dos imprescindíveis. Não importa qual era a luta – reforma agrária, aumento de salário, luta por moradia, defesa do meio ambiente, igualdade de gênero, contra o racismo, campanha eleitoral, organização do PT… –, a causa sendo justa ele estava lá: participava da organização, da mobilização, fazia presença e se convidado discursava.

Hermes, não fazia a luta de cara fechada ou de mal humor, era um animador, e estimulador, sempre otimista.

Andamos muito, organizamos e fundamos o PT em dezenas de municípios, fizemos formação política, rimos e corremos risco de vida – foram muitos os sustos – pelas estradas do Paraná. Nestas andanças deixávamos sempre as marcas da Democracia Socialista (DS).

Muitas vezes me hospedei na casa dele e de tanto lá ficar, suas filhas, ainda crianças, por acharem meu apelido estranho e engraçado, resolveram – me homenagear (?) – chamar a cachorrinha que adotaram de Rosinha.

A primeira vez que lá voltei, após está homenagem, que não sabia, as crianças só faziam rir, até que uma delas, não me lembro qual, pegou coragem e veio me contar o nome da cachorrinha, era esta a razão do riso.

Uma das últimas vezes em que o vi, sempre cheio de entusiasmo, estava relendo os clássicos da política – Lênin, Marx, Engels, Gramsci … – e da literatura, cheio de energia para derrotar o fascismo.

A penúltima última vez que o vi, estava na cama, consciente, com pouca, ou quase nenhuma capacidade de falar. Saí desta visita triste e desolado.

Infelizmente, por estar na cama e inconsciente, pela primeira vez na vida, na eleição passada, deixou de votar no PT e nas candidaturas da DS. Pela mesma razão, tampouco conseguiu ver, rir e festejar a vitória de Lula e a derrota eleitoral do fascismo.

E agora, a derradeira vez que o vejo, encontro-o com a mesma feição de tranquilidade com que fazia as lutas.

Saio da homenagem, merecida, prestada ao Hermes e sua família com a certeza de que ele deixou bons exemplos de vida e de lutas para todos e todas que com ele conviveu.

Lembro de – A Rua dos Cataventos – de Mário Quintana, e saio com a sensação de que Hermes levou qualquer coisa de mim.

A luz de um morto não se apaga nunca!

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