Do site da FPA
Nesta entrevista para o portal FPA, Marcio Pochmann destaca três desafios para a gestão 2013-2016 da Fundação Perseu Abramo: organizar as informações sobre o modo petista de governar e de legislar; ampliar a interlocução com os produtores de conhecimento sobre o país, dentro e fora da academia e fomentar a mobilização social em torno dos projetos do PT para o país. Economista e professor da Unicamp, Pochmann assumiu a presidência da Fundação Perseu Abramo (FPA) em dezembro do ano passado, com a nova diretoria eleita no Diretório Nacional do PT. Anteriormente, Pochmann foi presidente do Ipea – Instituto de Pesquisas Avançadas por cinco anos e, em 2012, disputou a eleição pelo PT à prefeitura de Campinas (SP).
Portal da FPA – Como sua experiência frente ao IPEA e como candidato à Prefeitura de Campinas pode contribuir para o trabalho desenvolvido pela FPA?
Marcio Pochmann – Temos dois ingredientes interessantes do ponto de vista da oportunidade de exercer este mandato na direção da Fundação Perseu Abramo. A nossa experiência em cinco anos à frente do Ipea que é a maior instituição de pesquisa aplicada do Brasil, podemos dizer latino-americana, nos deu uma base bastante apropriada a respeito dos problemas e das oportunidades que tem o Brasil em seu desenvolvimento econômico, social, cultural, ambiental. Portanto agora temos uma visão bem mais estruturada a respeito do que é o Brasil hoje e sua importância em relação ao mundo. Ao mesmo tempo, abriu um conjunto de aproximações com aqueles que produzem conhecimento no Brasil sejam aqueles nas universidades, nas instituições de pesquisa, na produção de conhecimento formal, sejam aqueles que produzem conhecimento que não necessariamente identificados como formal através das várias instituições que fazem parte da sociedade civil. No Ipea tivemos a oportunidade de abrir a instituição construindo uma diversidade de redes, de tal forma que temos hoje também este outro elemento que é o conhecimento daqueles que estão envolvidos com a produção de várias áreas em diferentes regiões do Brasil.
A experiência de ter participado da competição eleitoral no ano passado também foi muito enriquecedora, do ponto de vista das atribuições que dizem respeito à gestão de uma cidade. Mesmo tendo uma campanha que fracassou do ponto de vista eleitoral com o segundo lugar, mas inegavelmente foi uma oportunidade de ter um conhecimento muito mais próximo dos desafios que os gestores tem de maneira geral, especialmente aqueles que dizem respeito a administração que o PT faz parte. Entendo que essa possibilidade, inclusive com a campanha eleitoral nos deu uma experiência inédita, nós terminamos estudando a cidade de Campinas, produzimos um livro com o intuito de debater o futuro das cidades e o desafio das cidades, de tal forma que podemos juntar esses dois elementos, o primeiro em relação ao desenvolvimento brasileiro, em questões que fazem parte do ponto de vista da produção de conhecimento do Brasil e fora do país com os desafios das administrações públicas no Brasil, especialmente a administração municipal. Então essa bagagem nós trazemos aqui para a FPA, em parceria com os demais colegas que constituem a diretoria e os trabalhadores daqui e temos planos de ter nos próximos quatro anos a oportunidade de não apenas darmos continuidade ao que a Fundação tem já desenvolvido nestes 16 anos, como implementar iniciativas que possam estar mais próximas dos desafios que o PT tem hoje pela frente.
Você poderia detalhar quais são estes desafios e as ideias para colocar em prática o projeto para enfrentá-los?
Pochmann – Entendemos que o Brasil, que é um país que não tem tradição democrática, tem mais de 500 anos de história, completou agora 50 anos de democracia e vive agora em 2013 o período mais longo de uma experiência democrática continuada – são 28 anos de experiência democrática de 1985 até hoje – há uma situação muito oportuna do ponto de vista da atuação político-partidário, quero dizer, de um lado o nosso conhecimento do que salvou o Brasil em duas décadas muito difíceis, que são as décadas de 1980 e 1990, foi justamente a política. E a política em que o PT foi a principal referência na montagem do governo do presidente Lula e da presidenta Dilma. O Brasil tem, nesse sentido, um enorme desafio que é se situar entre as quatro principais economias do mundo, apresentando um modelo de desenvolvimento que não seja a repetição do passado com um desenvolvimento que degrade o meio ambiente, um desenvolvimento que deixe uma parcela da população excluída e um desenvolvimento que não seja soberano. Esse é um desafio que está colocado ao público brasileiro, mas inegavelmente é um desafio maior para o PT porque é governo há 10 anos e tem condições de governar o país nos próximos anos. Nesse sentido, entendemos que o PT tem aspectos importantes sobre os quais a própria Fundação se debruçará nos próximos quatro anos.
A primeira diz respeito ao projeto Modo Petista de Governo, o PT tem 33 anos de existência, é um partido que vem acumulando experiências no âmbito municipal, estadual e federal e entendemos que chegou o momento de dar um passo importante do ponto de vista da sua experiência de administração, o modo de fato de governar as cidades, as experiências nas diversas esferas da federação, implementando um modelo de cooperação, nesse sentido é que ao termos a capacidade de monitorar as diferentes administrações municipais, poderíamos, nesse sentido, oferecer uma metodologia em que a cooperação fosse uma possibilidade entre as diferentes administrações petistas, num plano geográfico, ter um resultado mais amplo do ponto de vista da governança. Isso implica não só no acompanhamento, um monitoramento das administrações federais, estaduais e municipais, mas também no acompanhamento da experiência petista no Legislativo, através de seus senadores, deputados federais, estaduais e vereadores, ou seja, a prática petista no Legislativo, com os projetos de lei, as leis, como é construído todo esse processo, a aprovação de políticas públicas. Isso é uma parte inegável do ponto de vista do exercício mais democrático que precisa ser reconhecido e ao mesmo tempo, permitir que diferentes projetos de leis que foram assumidos pelo PT possam, de certa maneira, também ganhar maior expressão em outras localidades no plano nacional e também no plano internacional.
Queremos também acompanhar a força dos nossos militantes, a presença do PT nos movimentos sociais, nas diferentes instituições da sociedade civil, identificando quem é esse militante, de que forma ele, de certa maneira, possa ter as melhores possibilidades de participar da vida partidária com as melhores informações e os dados que façam dele um ator cada vez mais relevante dentro do PT.
O segundo desafio que nós temos é, de certa maneira, contribuir para que o PT tenha uma visão clara a respeito de um projeto de Brasil e sua posição no mundo. Essa é uma tarefa importante e entendemos que devemos envolver aqueles que produzem conhecimento no Brasil. O envolvimento da FPA com estudiosos, pesquisadores, intelectuais será ainda mais aprofundado. Nós temos um projeto que já está em andamento, um projeto de estudos sobre o Brasil, que deve reunir ao redor de 500 pesquisadores, estudiosos. O objetivo será o de oxigenar e organizar o debate a respeito dos desafios das realidades brasileiras para os próximos anos.
Um esclarecimento: esses pesquisadores são ligados organicamente ao PT ou virão também de outras esferas fora do partido?
Pochmann – É exatamente a interpenetração da Fundação com as diferentes instituições pesquisadoras, estudiosos e intelectuais que deve atrair aqueles que estão preocupados com o futuro do Brasil e que produz o conhecimento. Não é, na verdade, um engajamento da intelectualidade para aqueles que já de certa maneira, estão em sintonia com o PT. Nós queremos ampliar o raio de diálogo, por isso que é um ganho para os dois lados: para a Fundação do PT e também para aqueles que estão interessados em participar da vida política brasileira, contribuindo com suas ideias e suas propostas, com sua visão de mundo e visão de Brasil.
E ao mesmo tempo nós também estamos propondo ter uma presença mais ativa na disputa de opinião no Brasil, com informações balizadas, sistematizadas que nos permitam estar mais próximos da disputa de projetos, que de certa maneira, termina sendo influenciada pela opinião pública brasileira, que por sua vez é influenciada pelos mais distintos meios de informação e comunicação.
E o terceiro desafio é a mobilização social, agitação social, da presença mais ativa e efetiva do PT através de suas ideias, através da qualificação de seus militantes e nesse sentido é de relevância enorme a possibilidade de ampliarmos o diálogo com os diferentes segmentos, mas é também na forma da atualização, da qualificação, da formação de militantes, quadros e simpatizantes do PT.
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