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Pont: Popularidade de Chávez é cada vez maior

Fonte: Portal do PT

A força popular e o estilo pouco convencional do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, foram testemunhados de perto pelo deputado estadual Raul Pont (PT-RS), secretário-geral do PT, que, na última semana, passou quatro dias naquele país.

© Georges BARTOLI/MAXPPP. Meeting de soutien au president Chavez et au processus Bolivarien a Punto Fijo ou se trouve la principale raffinerie de PDVSA (pretroles venezuela socite d etat). Le controle de ce pole industriel et sa reprise en main par les ouvriers et l etat apres la greve des cadres en decembre a constitue l un des affrontements majeurs entre l opposition et le gouvernement chavez pour le controle de la ressource petroliere.

Pont esteve em Caracas para falar sobre o Orçamento Participativo petista – experiência que cinco cidades venezuelanas estão interessadas em copiar -, mas acabou também participando de uma marcha pró-Chávez, com 100 mil pessoas, e até de um longo programa de televisão ancorado pelo presidente.

Veja a seguir entrevista de Raul Pont concedida ao Portal do PT:

Em entrevista ao Portal do PT, o deputado avaliou que a interatividade de Chávez com a população é cada vez maior, o que deve se comprovar nas eleições parlamentares marcadas para 4 de dezembro. Para ele, a oposição “vai perder fragorosamente”.

Pont observou, ainda, que a busca da integração latino-americano é uma constante nos discursos de Chávez. A formação de um eixo regional, para fazer frente ao poderio dos EUA, foi assunto tanto do programa de TV como do comício ocorrido após a marcha – que terminou com a apresentação de um grupo de mariachis em que o próprio Chávez cantou por meia-hora.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Como foram as conversas em relação ao Orçamento Participativo?

Raul Pont – A relação deles conosco já é de algum tempo. O companheiro Ubiratan de Souza, que foi coordenador do OP tanto em Porto Alegre como no governo de Estado, e atualmente é assessor nosso aqui na Assembléia, já estava lá desde o início do mês; já tinha ido em outras oportunidades, a convite, e agora está fazendo a reta final, lá, de discussão e implantação da experiência na Alcaldia de Caracas, que são cinco municípios, sendo Caracas propriamente chamada de Alcaldia Maior. O Ubiratan levou todo o material e todo o software que a gente usava aqui, enfim, todo o programa para implementação. Ele fez um curso para os gabinetes que atuam lá no orçamento, depois um curso para todos os representantes das várias secretarias e departamentos. E me convidaram para ir lá fazer um debate mais político, mais teórico sobre como isso se integra no programa do PT, por que nós começamos a aplicar isso no Brasil, a história e um pouco de razões programáticas do projeto. Eles têm uma identidade com experiências desse tipo porque um dos pontos-chaves do que eles chamam de Revolução Bolivariana é a participação popular.

Essa é a primeira vez que os petistas do Rio Grande do Sul são convidados para fazer este tipo de exposição fora do Brasil?

Não. A gente já foi a um monte de lugares: Argentina, Uruguai, Chile… O pessoal liga aqui para o gabinete e, como eu não tenho muito tempo, o Ubiratan tem viajado muito nesse sentido.

Outros países têm adotado o OP?

Sim, sim. No caso da Venezuela, como eles defendem, no programa Bolivariano, a democracia participativa e o protagonismo popular, a experiência do Orçamento encaixa bem.

Qual foi seu roteiro na Venezuela?

A gente conversou com vários dirigentes do Movimento 5ª República, que é o movimento do Chávez. Conversamos também com dirigentes de outros partidos da Frente Bolivariana, com o chanceler venezuelano Ali Rodrigues e fomos à marcha em solidariedade ao Chávez naquela questão de Mar Del Plata, da disputa com o Fox (Vicente Fox, presidente do México) e o Bush (George W. Bush, dos EUA). Teve um comício no final da marcha, em que nós fomos chamados para fazer uma saudação em nome do Partido dos Trabalhadores. Depois o presidente nos convidou a ir com ele até o programa Alô Presidente, que é um programa de televisão, direto e ao vivo, que é enorme. Esse durou cinco horas. E foi dos pequenos…

O sr. participou do programa?

Participei. É quase um programa de auditório, onde estão os ministros, prefeitos, governadores. Montaram um palco na beira do rio Orinoco, onde a Odebrecht está fazendo uma ponte monstruosa que vai mudar o perfil de toda aquela região e fazer uma ligação com Norte do Brasil, as Guianas… É uma obra muito grande. E este programa tem questões regionais, os ministros são questionados, falam sobre projetos e propostas em andamento, tem participação da população, com gente que se inscreve para perguntar…

Quem comanda é o próprio presidente?

O âncora é o Chávez. Sozinho, ele vai conduzindo o programa. Tem todos os domingos. É uma loucura aquilo… Passa num canal de televisão que é o 8, um canal estatal. Eles também estão estimulando um jornal, que não é um jornal oficial, mas tem apoio e publicidade do governo, das empresas, e se contrapõe à oposição feita pelos jornais (tradicionais). E é uma barra, porque o maior jornal de lá, no dia seguinte – apesar de a marcha ter atravessado toda a capital, com 100 mil pessoas das 9 da manhã às 4 da tarde, depois com comício até as 8h -, o principal jornal não trouxe uma linha, uma foto. As televisões (privadas) também não. Já a TV estatal transmitiu direto, teve uma boa cobertura. Eles deram várias tomadas da macha, várias entrevistas com ministros, deputados, estrangeiros que estavam na marcha, e terminou no Palácio de Miraflores, onde teve um comício final com a última intervenção do Chávez. E ele ainda brindou a platéia com um conjunto de mariachis, onde cantou meia hora…

É conhecida a oposição partidária que a imprensa venezuelana faz ao presidente Chávez. O sr. vê paralelo com o comportamento da imprensa brasileira, em relação ao governo Lula, ou acha que a gente ainda não chegou a esse ponto?

Eu acho que a imprensa daqui bate até mais em nós. A imprensa de lá tenta meio que simplesmente ignorar. A nossa é mais radical contra o PT e o governo do que a imprensa da Venezuela contra o Chávez. Não sei também se já diminuíram de intensidade… Provavelmente já foi pior. Mas, hoje, há uma postura não só de oposição, como também de tentar desconhecer. E isso é compensado parcialmente pela rádio e pela televisão oficial, que ocupam um espaço crescente e que as pessoas assistem.

Os líderes de esquerda da Venezuela chegaram a manifestar preocupação com os problemas enfrentados pelo PT no Brasil?

Parte da conversa com o próprio Chávez foi sobre isso. Mas falamos mais na questão internacional. O Chávez, no programa, no comício, falou do PT, falou do Lula, fez elogios ao Brasil, apresentando sempre o Lula, o Kirchner (Néstor Kirchner, presidente da Argentina), o Tabaré (Tabaré Vásquez, do Uruguai) como o grande eixo que tem que se montar, criar um bloco latino-americano forte para enfrentar o Bush, enfrentar os Estados Unidos… Esse discurso é recorrente, repetiu várias vezes e ocupou toda uma parte do programa Alô Presidente. Chávez diz que tem que fazer um eixo Caracas-Brasília-Buenos Aires-Montevidéu. É um discurso muito latino-americano e anti-Bush. Ele não perde oportunidade de dar pau no Bush. O discurso dele é muito assim, de que a briga dele é com o Fox, não é com o México; que o Fox é um aliado, um cachorro do Bush, mas que o povo mexicano é o povo do Pancho Vila e do Emiliano Zapata, é o povo do conjunto mariachi que estava lá, e que ele cantou junto com os caras meia hora, em pleno comício.

O sr. acredita que, no Brasil, seria possível o governo estabelecer uma relação popular como a que Chávez estabeleceu na Venezuela?

Acho que é possível. Agora, eles estão apostando tudo, ou quase tudo, numa relação mais direta, mais de mobilização popular e num sistema de participação que é ainda é um pouco uma interrogação. Devido ao Estado oligárquico e à História da Venezuela das últimas décadas, a população não tinha muita confiança, nem muito respeito, nem muita participação nos conselhos municipais, que correspondem às nossas Câmaras. Isso sempre foi muito verticalizado. Então, o governo está estimulando muito as cooperativas, a organização direta da população, os mecanismos de crédito para pequenas empresas; enquanto aqui o nosso governo optou muito pelo jogo parlamentar. Eu acho que isso é a grande distinção. Ambos têm preocupações de soberania, de autonomia etc., mas as conseqüências são diferentes.

A Venezuela terá eleições parlamentares em 4 de dezembro. Como está a campanha eleitoral?

A situação é bem complicada porque a oposição não está querendo participar das eleições. Eles alegam que haveria uma avalanche governamental para cima da oposição, o que não é verdade. Estão tentando deslegitimar o processo. Vão perder fragorosamente, mais do que nas outras vezes. Não tem nenhuma campanha nas ruas, a oposição; os caras estão completamente escondidos. Tem lá uma comissão internacional para acompanhar o pleito, o governo já aceitou que quase metade das urnas sejam auditadas para garantir a lisura etc., e mesmo assim… É impressionante, você não vê uma propaganda, nada. Nem sei se eles registraram candidato.

Houve conversas a respeito da participação do PT no Fórum Social Mundial, que acontece em janeiro em Caracas?

Não. Eles esperam isso (participação do PT). O problema é que as pessoas com as quais conversei não estavam muito envolvidas na preparação do Fórum. O que nós combinamos com o pessoal dos partidos foi acertar a presença deles no Foro de São Paulo, de eles assumirem mais o comitê de coordenação e garantirem uma presença, ajudarem a atual coordenação a preparar o próximo Foro (meados de 2006). Em dezembro, vai ter uma reunião da coordenação e vai ser em Havana (Cuba). Provavelmente, para eles ficaria fácil dar um pulo até Havana e se integrarem mais.

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