Resultado das eleições européias reflete força do Bloco de Esquerda.
Pedro Sales*
Os resultados das eleições européias em Portugal não oferecem grandes hipóteses de leitura. Nunca, em trinta anos de democracia, a direita tinha tido um resultado tão negativo: 33%. O partido vencedor, o Partido Socialista, ganhou por uma margem superior a 11%, outra novidade no panorama político português. A coligação atualmente no governo, entre um partido de direita e extrema-direita, recebeu assim uma severa moção de censura às suas políticas privatistas, de destruição do setor público e de alinhamento com o eixo da mentira na guerra do Iraque.
Se o partido mais votado foi o Socialista (que viu o seu cabeça de lista falecer a três dias do fim de uma campanha que, assim, encerrou mais cedo), quem mais cresceu foi o Bloco de Esquerda, quase triplicando os seus resultados eleitorais de há cinco anos – passando de 1,8% para 4,9%. Mais, com eleições marcadas pela elevada abstenção (61%) que caracteriza todas as votações européias, o Bloco consegue ter mais 17.000 votos do que nas últimas eleições, nas quais votaram o dobro dos eleitores. O crescimento sustentado do Bloco de Esquerda começa a ser uma certeza, aumentando os seus resultados a cada ida às urnas.
Estas eleições européias confirmam sinais que já se vinham entrevendo nos últimos atos eleitorais. O Bloco de Esquerda não é mais apenas um fenômeno jovem e urbano, captando hoje votos em todas as camadas sociais, etárias e regiões do país. É esta tendência que permite que, perante uma abstenção recorde e que é visível essencialmente na juventude e grandes centro urbanos – onde costumava ter a maioria dos seus resultados – o movimento tenha o seu melhor resultado eleitoral de sempre.
Contra a guerra
Num cenário em que a esquerda se encontra dividida entre o Partido Socialista – e o seu alinhamento com as políticas neo-liberais impostas pelo Pacto de Estabilidade da União Européia –, e a política nacionalista do Partido Comunista, o Bloco de Esquerda marcou a campanha pela clareza das suas propostas e pela combatividade com que as defendeu. Discutir a guerra e o desemprego, assumindo que estes dois temas são o núcleo onde se decidem as políticas européias, foi o eixo da campanha bloquista.
Exigindo a retirada imediata do contingente português do Iraque, e o fim da ocupação colonial que vitima este país, o Bloco de Esquerda apresentou um programa propondo uma integração européia que não se faça em nome do monetarismo e austeridade, mas antes pela criação de políticas sociais e serviços públicos transnacionais à escala européia.
Vendo-se reconhecido como uma oposição ofensiva mas que apresenta proposta, que combateu na Assembléia da República – deputados que contam, deputados que lutam, dizia o Bloco na sua campanha – e nos movimentos sociais contra a guerra e contra a cartilha neo-liberal, o Bloco de Esquerda é hoje uma realidade incontornável na política portuguesa. Veio para ficar e para incomodar cada vez mais.
*Pedro Sales é assessor do grupo parlamentar do Bloco de Esquerda
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