Rosane Silva, Rosana Sousa e Dary Beck Filho *
Fruto desta Jornada avançamos em conquistas reais para a classe trabalhadora, caso, por exemplo, da política nacional de valorização do salário mínimo conquistada através de nossa mobilização e do protagonismo CUTista..
Todas estas ações foram construídas coletivamente, debatidas e deliberadas internamente nos fóruns democráticos de nossa Central. Entretanto, esta não foi a atitude assumida por parte da Direção desta Central no último dia 26 de maio, ao participar do Seminário ‘Brasil do diálogo, da produção e do emprego’. Ficamos sabendo somente através dos diferentes meios de comunicação sobre as posições assumidas por nossa Central neste Seminário realizado conjuntamente com a Força Sindical e a FIESP cujo grande debate foi a desoneração da folha de pagamento.
Por várias razões consideramos as posições de parte da direção da CUT neste seminário um equívoco. Um primeiro motivo, que já bastaria, é o fato desta não ter sido debatida em nenhum fórum deliberativo. Neste ponto não é preciso estender a argumentação de que uma Central Sindical que reivindica a democracia interna, o respeito à pluralidade de idéias e o fortalecimento de suas estruturas deve primar pelo amplo debate interno e pela tomada de deliberações em seus fóruns legítimos, participativos e reconhecidos.
Outro equívoco é o conteúdo deliberado neste seminário, que dificilmente poderia ser diferente uma vez que foi realizado em conjunto com Força Sindical, que cada vez mais se distanciam de serem nossos aliados na atual conjuntura, e com o setor patronal. Para este último, o interesse único em realizar este seminário é conseguir apoio e espaço na mídia para avançar em sua proposta de desoneração da folha de pagamentos, e assim, acumular mais e mais lucro à custa dos trabalhadores e trabalhadoras.
Assim, a estratégia deliberada conjuntamente entre a classe trabalhadora e a patronal e demandada ao governo Dilma, foi a reivindicação da criação da Câmara Brasileira da Indústria, um fórum tripartite que pretende debater uma política industrial para o Brasil. A criação das Câmaras Setoriais foi a estratégia utilizada durantes os anos neoliberais da década de 90, sob a presidência de Collor e de FHC. Período este recessivo, no qual o movimento sindical precisou posicionar-se na defensiva. Desde este período já criticávamos a opção política de alguns que se colocavam na defesa de um sindicalismo propositivo dentro da ordem social estabelecida, ao invés de um sindicalismo propositivo no sentido de uma estratégia que tenha em seu horizonte a superação da ordem.
Nosso contexto atual é muito diferente dos anos 90 e nos permite avançarmos ainda mais nesta estratégia de superação da ordem. Como afirma o título e o conteúdo da última resolução da Direção Nacional da CUT “É tempo de ousadia para ampliar ganhos reais e conquistas nas campanhas salariais”. Estamos num cenário no qual o debate é discutir como avançamos em ganhos para a classe trabalhadora, e não mais como assegurar os já conquistados.
Reivindicamos ainda a resolução da Executiva Nacional da CUT que diz que “reafirmamos uma agenda propositiva para o desenvolvimento sustentável com valorização do trabalho e distribuição de renda, em concomitância com as lutas de nossos ramos por ganhos reais nas campanhas salariais destes próximos anos”.
Por fim, em mais uma ação equivocada, o seminário deliberou por entregar ao Vice Presidente, Michel Temer, do PMDB, tal proposta, dando visibilidade midiática a este partido exatamente na semana que este se alia com a direita e o agronegócio para derrotar o governo.
Insistimos que estas atitudes e proposições, além de serem estrategicamente equivocadas, não foram discutidas internamente, não tem acordo na corrente CUT Socialista de Democrática (CSD), e, portanto, tratam-se de decisões unilaterais de uma única corrente política interna da CUT.
Reivindicamos a retomada do debate interno e a acertada estratégia de discussão de grandes temas nacionais através da Jornada pelo Desenvolvimento, que tem se mostrado uma poderosa ferramenta de nossa Central, e que inclusive já previa um debate nacional sobre política industrial. Somente garantindo a democracia interna nos fóruns de nossa Central que potencializaremos o papel de liderança que esta vem cumprindo no cenário atual.
Será através de Campanhas e lutas que conseguiremos vitórias para o povo brasileiro e consolidaremos o protagonismo social da CUT enquanto referência para a classe trabalhadora, por isso ressaltamos a necessidade da contínua mobilização pela redução da jornada de trabalho, pela ratificação das convenções 158 e 156 da OIT, pelo fim do fator previdenciário, pela liberdade e autonomia sindical e pela aprovação do Plano Nacional de Educação.
Convocamos toda nossa militância para o dia 06 de julho, Dia Nacional de Mobilização da CUT nos Estados, a realizar grandes mobilizações em todos os estados e avançar em conquistas para a classe trabalhadora.
* Rosane Silva é secretária nacional da mulher trabalhadora; Rosana Sousa é secretária nacional da juventude; e Dary Beck Filho é diretor da executiva nacional da CUT.
Comente com o Facebook