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Provocação e preconceito

CADEIRA DE RODAS Numa dessas semanas do segundo turno, entrei, após os exercícios fisioterápicos, num banheiro. Lá no espelho estava a provocação: “fora Lula”.

Para recuperar-me de uma cirurgia cardíaca, tenho freqüentado uma “academia”, cujos clientes são na maioria cardíacos ou ex-cardíacos —se é que isso existe.

A academia é freqüentada por pessoas, em geral, acima de 40 anos e de classe média. Supõe-se que sejam todos politicamente conscientes e responsáveis. Trata-se, portanto, de um ambiente em que a política possa ser debatida de maneira educada, responsável e sem provocação.

Não sei se algum petista, além de mim, freqüenta a academia. Sei que sou o mais conhecido. Mesmo assim, são poucos os que conversam sobre política comigo, até porque os exercícios são puxados. Há pouca ou nenhuma folga entre um e outro para que alguma conversa possa ser concatenada.

Numa dessas semanas de campanha eleitoral no segundo turno, entrei, após os exercícios fisioterápicos, no banheiro-vestiário da academia. E lá no espelho estava a provocação: “fora Lula”.

É muito raro encontrar algum banheiro público sem palavrão ou frase escrita. Alguns chegam a afirmar que isso ocorre porque os mesmos são freqüentados por gente sem educação ou caráter. Geralmente os escritos dizem respeito ao comportamento da moral sexual.

O que leva um cidadão a escrever “fora Lula” dentro de um banheiro masculino de uma academia de classe média? Primeiro, a falta de educação, pois sujou o espelho de um banheiro. Segundo, a covardia, pois se esconde no anonimato. Terceiro, a pobreza política, pois estou presente para qualquer debate sobre o momento político que vivemos.

O pichador anônimo foge por não ter argumentos para defender o projeto tucano, pois sabe muito bem o que foi, de terrível, o governo FHC/PSDB/PFL. Na semana seguinte, na mesma academia, fui novamente provocado.

Caminhava na esteira quando um senhor, com mais de 60 anos, chegou e perguntou a outro que estava ao meu lado se ele iria votar no “Barrabás”. Constrangido pela pergunta, o outro senhor se calou. Sei que a pergunta, por provocação, estava sendo feita para mim.

Agora, mais grave que a provocação é o preconceito. Não posso aceitar que os defensores, eleitores e partidos (PSDB, PFL e PPS) que apoiaram Alckmin usem nos seus carros, ao lado do adesivo de seu candidato, uma peça preconceituosa que retrata uma mão esquerda faltando um dedo (mão do Lula) e, sobre o mesmo, uma tarja vermelha de proibido.

O preconceito, já disse Lula, é como uma doença. Digo eu, uma doença maligna, pois os acometidos por ela têm dificuldades de se curar. E mais: ela vem acompanhada de cegueira.

As vítimas do preconceito enxergam a realidade distorcida. Por isso, quase sempre causam grandes catástrofes. Eram preconceituosos e racistas os seguidores de Hitler como é a maioria dos que admiram Bush. Como também são preconceituosos os seguidores da Klu Klux Khan (seita direitista e religiosa dos Estados Unidos que perseguia e matava negros).

O adesivo preconceituoso em questão agride não apenas Lula, mas todos os trabalhadores, principalmente aqueles que foram mutilados no ambiente de trabalho, que, aliás, em nosso país, são milhões todos os anos. Agride a todos que têm bom senso, aqueles que lutam contra o preconceito e os que apresentam algum tipo de deficiência física.

Que tristeza alguns terem no seu preconceito a razão do voto. Tristeza maior ainda é ver um portador de deficiência física ter na sua cadeira de rodas colado o adesivo preconceituoso, ao lado de um do Geraldo e de outro do Osmar Dias*.

O seu preconceito é tão grande que lhe deixa cego, impedindo inclusive que enxergue a própria deficiência. Felizmente, a maioria da população brasileira votou nas idéias e na esperança de ver o Brasil melhorar. Votou em Lula, e derrotou o preconceito.

Dr. Rosinha, médico pediatra, deputado federal (PT-PR) e secretário-geral da Comissão do Mercosul do Congresso Nacional.

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