Unidade da esquerda no PED reforça a disputa de rumos.
Com a aproximação do prazo para inscrição de chapas do Processo de Eleição Direta do PT, a Democracia Socialista, tendência interna do partido, tem reforçado sua atuação pela unidade da esquerda petista. Embora a efetivação da unidade passe por inúmeras dificuldades, esse será o objetivo da tendência. Para reforçar a tese de disputa de rumos do PT,é importante a esquerda do partido se apresentar de forma unitária, tanto para discussão interna como para projeção política do debate.
A disputa no Partido dos Trabalhadores deve se dar a partir da defesa das bandeiras históricas do partido. Estas bandeiras são produtos de lutas e debates na qual a Democracia Socialista teve e mantém um papel destacado. Tornar vitoriosa a luta por essas bandeiras exige que elas sejam vitoriosas no PT. Assim, é legítimo e necessário construir resistências contra as tentativas de arriá-las; estas resistências existem nos movimentos sociais e, sobretudo, no interior do partido.
No sentido da ação unitária, em conjunto com outras correntes partidárias, foi apresentada a Carta às petistas e aos petistas. Buscou-se nesta construção torná-la um instrumento de unificação da esquerda partidária visando uma mesma chapa nas eleições internas. Ao lado de formular críticas e alternativas ao curso dominante no governo e no partido, esse documento parte de um compromisso claro com o PT e propõe a redefinição dos seus rumos.
A Carta faz a defesa do governo Lula como uma conquista popular e defende sua reorientação no sentido da superação do neoliberalismo; parte da existência de uma direita neoliberal que quer derrotar o PT e propõe a retomada do programa democrático popular como a melhor maneira de enfrentar essa direita. O documento ressalta ainda a importância da autonomia do partido em relação ao governo e a necessidade de o PT ter permanente relação com as lutas sociais.
Alguns poréns
No entanto,o caminho da construção conjunta exige de todos os grupos envolvidos a disposição em abrir mão de sensibilidades setoriais, municipais e regionais. No dia 20 de março, um seminário realizado por parte da esquerda petista em São Paulo apresentou diferentes pontos de vista sobre a situação do PT e do Governo Lula, mas acabou aprovando ações que dialogam pouco com o espírito da unidade. O seminário foi uma expressão importante dos balanços críticos que vêm sendo realizados acerca da experiência de governo federal dirigida pelo PT, e contou com uma grande participação de militantes do partido.
Vários dos debatedores que participaram, além da companheira Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza, têm sido também parceiros da Democracia Socialista em outras ocasiões, e o balanço crítico ali expresso traz diversos aspectos relevantes. É importante que as várias iniciativas de construção de alternativas programáticas ao rumo dominante no governo e no partido possam convergir para um mesmo processo de unificação da esquerda partidária e para uma mesma chapa nas eleições internas do PT. De outro lado, o seminário foi também palco para o lançamento de posições não consensuais, que não haviam sido comunicadas previamente a parte dos organizadores do evento.
Um dos desafios dessa construção conjunta é justamente dar conta das diversas sensibilidades em jogo, inclusive na definição de quem lidera o processo. O estatuto do PT dissocia a eleição da presidência do partido da eleição da chapa ao diretório nacional, o que distorce o conceito de unidade em torno de um colegiado e personaliza a disputa presidencial.
Unidade ampla
A proposta da DS é construir a unidade em torno do que já vem sendo construído na Carta aos Petistas e às Petistas, em torno de uma plataforma para disputar o PT. Não há, nesse sentido, o objetivo de construir uma candidatura dissidente, apenas para demarcar posições minoritárias ou estranhas, como a defesa do voto nulo no segundo turno da eleição de 2004, na disputa entre Marta Suplicy e José Serra em São Paulo.
Essa proposta de construção ampla começa com a esquerda do PT, mas pretende dialogar com o conjunto do partido. A corrente atualmente majoritária realiza seminário nacional nos dias 9 e 10 de abril para definir suas posições. Um setor desse campo anuncia que pretende incorporar teses neoliberais às posições do partido, alegando que instrumentos de política econômica, como superávit primário, não são de esquerda nem de direita. Como disse Perry Anderson, a grande vitória do neoliberalismo é ideológica. É exatamente o que parece quando parte da esquerda quer fazer de idéias neoliberais, conceitos universalizantes.
Espera-se que o Processo de Eleição Direta possa refletir o anseio por mudanças, com a eleição de um/a candidato/a comprometido/a com a luta pelo fortalecimento do partido e pela reorientação do Governo Lula, tendo como objetivo a superação do neoliberalismo. O debate de nomes à candidatura a presidente nacional de uma chapa ampla e unificada deve ser feita nestes marcos. Dentre os nomes que o movimento avaliará, é natural a inclusão do companheiro Raul Pont.
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