Que se dane o sistema

Dr. Rosinha

Será que ele burlou o sistema por pena de mim ou por rebeldia?

Foto: Igor constantino/Unsplash

Antes de ir para o quarto passei no bar e restaurante do hotel e perguntei:

– À noite vocês servem lanche, como por exemplo tapioca e café com leite?

– Servimos.

– Vou descansar um pouco e em seguida retorno.

Cerca de 40 minutos depois volto e, sem olhar o cardápio e antes de dirigir-me a uma mesa, chego no balcão para fazer o pedido.

– Por favor, uma tapioca com ovos mexidos e uma xícara de café com leite.

Como hoje é raro fazer o registro em papel, o rapaz vai até o computador para fazer o pedido. Após alguns breves minutos com o aspecto de, não sei definir, virasse para mim e diz:

– Tem, mas não dá para vender.

– Como assim?

– Não está no sistema.

– Pera aí… tem tapioca, tem ovos, tem café e tem leite, mas não dá para vender porque não está no sistema?

– É isso mesmo.

– Mas, que sistema? Desejo comer, vocês têm para vender e uma máquina, um sistema, não permite que eu seja atendido. Para mim é inconcebível: o computador nega o meu desejo de comer e o seu de me atender?

– Isto que o senhor quer está no café da manhã. Posso vender um pro senhor, ele vem completo, com frutas, bolo, biscoito, pão, ovo mexido, tapioca, salsicha, cuscuz, queijo e presunto. São 50 reais.

– É muita coisa, não quero tudo isto e muitas dessas coisas sequer como.

– Está aqui o cardápio, olha (me indicou com o dedo): tem sanduíches e hambúrgueres, refrigerantes e sucos.

– Não, obrigado, não quero isto.

– Tem chá com torradas, biscoitos e bolo.

– Desculpe-me pela chateza, quero mesmo tapioca e um café com leite, ou alguma coisa mais saudável.

Não tinha vontade de sair, mas perguntei:

– Tem algum lugar aqui perto que eu possa ir?

Tinha parado de chover e sair sem a certeza de que não mais choveria me deixava em dúvida. O local mais perto estava a uns 300 metros e, se chovesse, poderia chamar um motorista de aplicativo, mas estava cansado e indisposto.

O rapaz interrompe meus pensamentos:

– Por que o senhor não pede este daqui, e indicou com o dedo chá com torradas, biscoitos e bolo.

– Mas não é isso que quero.

Ele interrompe o nosso silêncio e diz:

– O senhor compra, vou até a cozinha e peço para substituir por tapioca e o café com leite.

– Mas e o sistema, como que você faz?

– Que se dane o sistema. Escrevo uma coisa e peço outra.

Aceitei a sugestão.

Será que ele burlou o sistema por pena de mim ou por rebeldia?

Vivi esta situação em um hotel de Natal, mas poderia ter sido pior, como já ocorreu.

Em São Luiz, Maranhão, fiz reserva em um hotel e não prestei atenção ou não havia a informação visível quando reservei: era exigida uma senha para entrar.

Cheguei próximo à meia noite. A porta estava fechada e havia a exigência de senha para entrar. Bem, se eu for contar dá outra crônica.

Dr. Rosinha é médico, ex-deputado federal, funcionário do Ministério da Saúde.

Via Jornal Plural

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