Marco Weissheimer – www.sul21.com.br – As eleições municipais deste ano, consumado o golpe contra Dilma Rousseff no Senado, devem adquirir um papel importantíssimo como expressão de resistência ao golpismo e trincheira da luta em defesa da democracia, como já ocorreu em outros momentos da história do Brasil. O país está entrando em um período de profunda instabilidade política e haverá resistência nas ruas contra o programa anunciado pelo PMDB e seus aliados. As afirmações são do ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont (PT), ao avaliar os possíveis impactos da derrubada da presidenta eleita em 2014 nas eleições municipais deste ano e, de modo mais geral, no ambiente político do país. Para Pont, as eleições nas capitais e nos grandes municípios adquirem um novo sentido a partir do golpe contra Dilma Rousseff. Ele lembra o caso da própria cidade de Porto Alegre que se tornou uma referência internacional em democracia na década de 90, em um período de predomínio muito forte do neoliberalismo.
“Mesmo que a eleição seja municipal, ela terá um viés nacional obrigatório. As pessoas terão que refletir, por exemplo, sobre o que aconteceu nestes últimos 13 anos na relação da União com os municípios e os estados, e o que existia antes. A diferença é da noite para o dia”, assinala Pont destacando que todas as obras em que estão em andamento em Porto Alegre, hoje, estão sendo realizadas com recursos federais:
“O município tem onde buscar recursos hoje para saneamento, mobilidade urbana e outras áreas. No período FHC, que volta agora com Temer associado aos tucanos, os municípios passaram por um momento muito difícil que deve retornar agora. Quando fui prefeito de Porto Alegre, durante o governo FHC, nunca recebemos um tostão do governo federal. Hoje, os municípios têm onde buscar recursos hoje para saneamento, mobilidade urbana e outras áreas. No período FHC, que volta agora com Temer associado aos tucanos, os municípios passaram por um momento muito difícil que deve retornar agora”.
“Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo tendem a se aproximar ainda mais”
Na avaliação de Raul Pont, o afastamento da presidente Dilma Rousseff abrirá um período de instabilidade política ainda maior. Os partidos, sindicatos e movimentos sociais que se organizaram em torno da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo tendem a se aproximar ainda mais, prevê Pont. “Eu acredito que amplos setores do PSB, que não concordam com a posição adotada por sua direção de se aliar ao golpismo, também podem se aliar a essa grande frente. O mesmo deve ocorrer com setores da Rede Sustentabilidade e com o PDT, que vive um momento muito difícil de definição programática. O suplente de senador do PDT, Christopher Goulart, tem participado e falado nos atos da Frente Brasil Popular aqui no Estado. O presidente nacional do partido, Carlos Lupi, me disse que está lutando para que o PDT se assuma efetivamente como defensor do trabalhismo, que não tem nada absolutamente nada a ver com os tucanos e com o Temer”, diz o dirigente petista.
As consequências do golpe, defende ainda Pont, exigirão uma redefinição programática e ideológica dos partidos. “O grande desafio para os setores que resistirão ao golpe é compor uma frente política. A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo envolvem dezenas de organizações de tamanhos e representatividades diferentes. Nosso desafio é compor uma frente política de oposição maior do que cada um de nós para resistir ao golpe e fazer o enfrentamento contra os golpistas. No Parlamento podemos ser minoria, mas dificilmente seremos minoria nas ruas. A luta para construir uma frente política será um desafio também para o processo eleitoral. Se não conseguirmos uma unidade até as eleições, podemos no mínimo construir uma unidade suficiente para uma coexistência pacífica e um compromisso de estarmos juntos no segundo turno. O tempo é curto, mas a importância da conjuntura exige da gente uma capacidade superior de resposta”.
“Globo e RBS mentem e iludem as pessoas”
As consequências deste golpe também devem incidir sobre a unidade completamente artificial que juntava o verde-amarelo dos manifestantes do Parcão, avalia Pont. “Era só Fora, Dilma! e Fora, PT! Agora tem que saber o que se faz com a Petrobras, com o Temer, que já teve o nome citado por delatores da Lava Jato”. Outra tarefa das organizações que resistirão ao golpe é explicar à população o que ele significa de fato, acrescenta. “O que está em jogo são os recursos do pré-sal, é a Petrobras, o fim das políticas sociais, do Mercosul e dos projetos de integração sulamericana, entre outras coisas. Não é o que a Globo e a RBS ficam repetindo todos os dias, mentindo e iludindo as pessoas para esconder o principal”.
Falando ainda sobre o comportamento da mídia, Pont citou o caso da jornalista Rosane de Oliveira, colunista de política da RBS, que reconheceu que a presidente Dilma não cometeu crime nenhum, mas diz que seu afastamento é legítimo porque “seu governo é ruim”. “Desde quando isso é legítimo? Governo ruim a gente afasta na eleição com o voto popular. Há vários editoriais que repetem esse argumento, admitindo que não há crime de responsabilidade, mas justificando o impeachment pelo conjunto da obra. Cabe lembrar que todos os dados macroeconômicos hoje, em meio à crise cobrada da Dilma, são superiores aos do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Ele foi derrubado em função disso?” – questiona.
Raul Pont fala também sobre a possibilidade de aumento da repressão policial sobre movimentos sociais e sindicatos que resistirão à agenda proposta pelo PMDB para o país. “Pelo que eles estão prometendo, não tem como não ter enfrentamento com o movimento sindical e com os movimentos sociais. O funcionalismo público federal sabe muito bem o que foi o período FHC: oito anos sem reajuste. Foi um período de perdas salariais, de deterioração das condições de trabalho nas universidades. Nós sabemos quem é essa equipe que está sendo formada por Temer, uma figura pusilânime que sempre se elegeu mal e porcamente. Estamos entrando em um período de profunda instabilidade política. Ela não vai diminuir. Se for desencadeado um processo de repressão contra os movimentos sociais e os sindicatos vamos entrar numa espiral sem limites. Haverá resistência porque o Brasil não é o mesmo. Ocorreram muitas mudanças na última década, criando outra consciência que, se não está generalizada, é muito ciosa de onde chegou.”
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