Por Raul Pont e Olívio Dutra
O Processo de Eleição Direta (PED) é sempre um momento importante de revigoramento partidário. O PED deste ano, obviamente, nos impõe novos e importantes desafios como integrantes conscientes de um partido que surgiu de baixo para cima, de entre as lutas dos movimentos populares e comprometido não só com a derrubada da ditadura, mas com transformações profundas nas estruturas do Estado e da Sociedade brasileiros. Um Partido que buscasse, pelo debate de ideias e de um Programa de Transformação para o País, elevar o grau de protagonismo do nosso povo e, pelo voto consciente, conquistar espaços nas instituições legislativas e executivas não para nelas se acomodar, mas, por dentro e por fora delas, transformá-las e reforçar ainda mais as lutas populares na busca de um Brasil justo, solidário, livre e democrático.
Neste PED o debate mais importante não é sobre o que já fizemos nos mandatos executivos e legislativos em que atuamos nestes 33 anos. É evidente que temos muito o que comemorar e, com grande parcela do povo, celebrar transformações importantes na vida de milhares de pessoas propiciadas por políticas públicas que pudemos implementar nos três níveis de governo, em especial nos dois mandatos do Presidente Lula e agora no mandato da Presidente Dilma.
Mas o que está em debate mesmo são as transformações que o nosso Partido sofreu durante esse período e nesse processo de atirar-se de corpo inteiro na institucionalidade por conta de governar e pela “necessidade” de conviver, dialogar e negociar (essência da política) com aliados, parceiros e acompanhantes, além do campo popular, aliançados pós-eleições, na visão pragmática da governabilidade a qualquer custo.
O Partido foi diluindo os seus contornos e esmaecendo sua identidade, confundindo sua prática com a dos partidos da tradicional política do “é dando que se recebe”, do “toma lá dá cá”, do eleitoralismo e do clientelismo. O “Mensalão” é parte disso. A sobreposição de cargos e mandatos sobre as instâncias partidárias, também. Hoje não é difícil encontrar pessoas, até na base do PT, não só conformadas com isso, mas até achando que é isso mesmo: “Que bom que tenhamos aprendido a ser espertos e ganhar “deles” usando seus métodos a nosso favor”. Deveríamos estar contrariando essa cultura a cada instante da nossa atuação e prática partidária e não reforçando-a, como tem acontecido.
O PT, para manter seu caráter transformador, tem de ser uma escola política aberta permanentemente, onde direções e bases, nos três níveis, sejam educandos e educadores ao mesmo tempo, caldeando-se no debate de temas e intercâmbio de experiências de luta. Aí se forjam novos quadros e lideranças. Nesse espaço franco, fraterno e democrático de construção e encontro do conhecimento com a vida, o PT pode aprender com as formas de organização e mobilização populares, estimulando a que milhares de lutadores sociais sejam protagonistas do Projeto de Transformação do Brasil que o Partido deve apoiar e ajudar a formular com as demais forças e partidos da esquerda e do socialismo democrático do nosso país.
Esse debate e essa construção, radicalmente democrática, ensejará que outros setores da sociedade brasileira – sem mascarar a luta de classes que ainda não foi abolida – desejosos de transformações que o desenvolvimento espraiado e desconcentrado do nosso país carece há tanto tempo, se engajem nesse processo.
O PT será parceiro confiável nessa tarefa na medida em que afirmar sua identidade como partido do socialismo democrático e perfilar suas atitudes na resistência ao canto das sereias do “bom mocismo” neocapitalista que, tangenciando os problemas estruturais do estado brasileiro, incensa o gerenciamento competitivo da “nova forma de governar” e a criatividade na embalagem midiática dos nossos feitos para exposição nas prateleiras do “shopping” político onde tudo se compra, se vende ou se negocia.
Nossos feitos não são poucos e nos orgulhamos deles, mas devemos creditar ao protagonismo do povo brasileiro que se mobilizou para que, nas condições políticas em que governamos, ao menos isso pudéssemos ter feito. Mas é preciso ir bem mais longe. As estruturas injustas do Estado brasileiro que o fazem funcionar muito bem para muito poucos longe estão de terem sido abaladas.
Nosso papel é aprofundar o processo onde o povo se assuma cada vez mais como sujeito e não objeto da política. A política que promove o protagonismo, a cidadania plena, a solidariedade e a indignação diante das injustiças é a que produz transformações profundas e duradouras e não apenas de superfície e passageiras.
Nosso Partido tem de ser um provocador permanente da rebeldia com causa e da participação que liberta as pessoas da submissão e da dependência de favores de ocasião, sejam de indivíduos ou de estruturas de poder.
No próximo ano o PT deve estar revigorado na sua identidade política para enfrentar as candidaturas que já se alinhavam como oposição no campo do neoliberalismo e adjacências.
A peleia não será pequena para, junto com o povo brasileiro, reelegermos, com Dilma e Tarso, o Projeto que abraçamos e que está transformando o país em Nação. Para isso é preciso forjar as novas direções do Partido dos Trabalhadores, no PED deste ano. Pelo dedo se conhece o gigante. Se agirmos pequenos neste PED, cometendo ou praticando vícios e condutas iguais ou parecidas com as que condenamos nas eleições gerais do país, estaremos sepultando as possibilidades de revigoramento do nosso projeto e nos descredenciando junto à cidadania brasileira, como propositores sinceros de uma Reforma Política séria que, junto com as Reformas Agrária, Urbana e Tributária são fundamentais para consolidar a democracia e emancipar o povo brasileiro.
O PED pode e deve atiçar o fogo da cidadania petista, soprando as cinzas sobre o braseiro e reacender a chama que acalenta e ilumina a militância petista de todas as idades. A luta não é pequena. Mas vale a pena e é por isso que apoiamos a candidatura do companheiro ARY VANAZZI à presidência estadual do PT/RS.
Boa luta!
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