Reproduzimos artigo do Jornalista e ex-presidente do PT de Porto Alegre Luiz Pilla Vares publicado no Jornal Zero Hora, na sexta-feira dia 22/07.
Recomeçar o PT
O Partido dos Trabalhadores surgiu no cenário político brasileiro há 25 anos como uma novidade autenticamente revolucionária: foi o primeiro partido político em nosso país organizado pela classe trabalhadora, na contramão das velhas siglas manuseadas pelas elites tradicionais. O PT original se propunha dar fundamento ao conceito republicano: era a primeira versão brasileira daquilo que os velhos jacobinos da Revolução Francesa legaram à política, uma postura ética irrenunciável, no interior de um esboço de política socialista, nem bolchevique, nem social-democrata. Além disso, nascia estreitamente ligado aos movimentos sociais, ao sindicalismo novo representado pela CUT, aos agricultores sem terra do MST, aos setores progressistas das igrejas, especialmente a católica, aos antigos militantes que lutaram contra a ditadura nas mais diversas organizações de esquerda que proliferam nos anos 60. Enfim, um partido laico que despertou esperanças no Brasil inteiro e semeou perspectivas através do mundo: diante do aparente triunfo (que se revelou inteiramente enganoso) do neoliberalismo surgia uma nova esquerda, democrática, socialista, de massas, republicana e visceralmente ética.
Mas o PT chegou ao poder. Assumiu as instituições, o que não tem nada de mau, e chegou a realizar algumas rupturas no velho sistema, como a criação do Orçamento Participativo, principalmente em Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul. Mas, no conjunto do país, foi se afastando paulatinamente dos movimento sociais que lhe deram origem e, aos poucos, acabou se emaranhando na rotina do poder e da máquina burocrática nas mais diversas instâncias do Estado. E sucumbiu àquilo que Christian Rakovsky denominou “os perigos profissionais do poder”, até chegarmos à constrangedora situação atual, que faz sangrar dolorosamente o coração vermelho de todos os petistas.
O que fazer? O velho PT não está morto. Mas está, sim, gravemente enfermo. E os paliativos para a sua recuperação não resolvem o estágio preocupante da doença. A sacudida na direção nacional era uma exigência. Tarso Genro, por exemplo, agora presidente nacional petista, é um patrimônio ético do PT (quero deixar claro que tenho grande respeito por seu antecessor José Genoino), mas não resolverá o problema. A nova direção petista precisa, isso sim, retomar o velho programa e, em primeiro lugar, questionar radicalmente as alianças promíscuas que contaminam o governo, o nosso governo e propor, em vez das alianças pragmáticas, alianças programáticas que rompam com a atual política econômica ortodoxa e se voltem para o imenso espaço social, justificando o oceano de esperanças que significou a eleição de Lula em 2002. Em suma, o PT só tem uma saída: recomeçar, ir ao fundo de sua história, tomá-la em suas mãos e resgatar a mística que trouxe tantas vitórias e tantas alegrias a uma militância brava e que agora está perplexa e abatida.
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