A revista Democracia Socialista número 2 foi elaborada sob os eventos venturosos da comemoração dos 70 anos de Raul Pont – e também dos 50 anos de sua militância revolucionária; da realização da XI Conferência Nacional da Democracia Socialista, em abril de 2014; e a vitória de Dilma, em novembro do mesmo ano. Por este motivo, o primeiro texto apresentado é a recém elaborada resolução da coordenação da DS sobre as eleições.
A memorável entrevista com Raul Pont foi realizada por Flavio Koutzii, Marco Weisheimmer, Jefferson Miola e Juarez Guimarães, tendo sido editada por estes dois últimos. Com o título “Do labirinto à fundação do PT”, ela cobre o período de fragmentação da esquerda brasileira no pós-64 até a fundação do PT, momento de convergência e de abertura de um novo ciclo histórico para a esquerda brasileira. De tão nutrida da memória e de reflexões significativas, optamos por desenvolver a segunda parte desta entrevista – aquela que cobrirá da fundação do PT aos impasses e potencialidades da esquerda contemporânea – no próximo número da revista. Esta entrevista, tendo em vista o valor internacional da militância socialista e revolucionária, que entra agora em mais um momento decisivo na força de sua maturidade, é certamente um documento para a história da esquerda latino-americana.
Os dois documentos publicados e originados na XI Conferência Nacional da DS foram construídos em um clima ensolarado de grande unidade e esperança desta que é hoje a mais antiga tendência do PT. O primeiro deles visa examinar programaticamente e analiticamente as potencialidades da revolução democrática contidas na disputa política-eleitoral de 2014. Este esforço de pensar a conjuntura da revolução democrática, em complemento ao documento de sentido mais histórico aprovado na penúltima conferência Nacional da DS, é ainda mais importante porque atualiza uma visão dos impasses internacionais na luta contra o neoliberalismo e seus reflexos na conjuntura latino-americana. A leitura deste documento evidencia o quanto as novas elaborações do PT dialogam com ele.
O documento que faz o balanço das conquistas dos direitos das mulheres nestes 11 anos de governos Lula e Dilma é certamente uma das contribuições mais importantes para se refletir sobre estes desafios que estão no centro da revolução democrática no Brasil. Elaborado pelo coletivo feminista da Democracia Socialista, ele centra-se nos avanços sociais e econômicos das mulheres, na cidade e no campo, bem como na área das políticas públicas contra a violência das mulheres, e procura indicar os grandes desafios que estão pela frente na luta histórica pela emancipação das mulheres.
A revista Democracia Socialista número 2 traz um importante ensaio do companheiro Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul e uma das principais lideranças da Mensagem ao Partido, sobre os fundamentos da Justiça de Transição. Junto com os companheiros Nilmário Miranda, Paulo Vannuchi, Paulo Abrão, Tarso Genro, a partir de sua rica cultura jurídica de esquerda, tem aportado inúmeras e decisivas contribuições para a formação dos valores democráticos da esquerda brasileira neste campo tão decisivo de luta pela memória, pela reparação, pela justiça e pelos direitos humanos.
A seguir, apresentamos um pequeno dossiê, composto de três peças, que buscam atualizar para a esquerda brasileira e latino-americana, a centralidade e atualidade da luta contra os poderes do capital financeiro. O ensaio de Gerard Duménil, traduzido por Carlos Henrique Árabe, busca uma análise marxista das dinâmicas mais recentes da crise do capitalismo internacional. Duménil e Dominique Lévy são pesquisadores do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e autores de “A crise do neoliberalismo”, recém editado no Brasil pela Boitempo.
O ensaio “As linguagens políticas do neoliberalismo”, de Estevão Cruz e Juarez Guimarães, é uma contribuição para a superação de um entendimento economicista do neoliberalismo, mostrando a força persistente de suas razões argumentativas conservadoras, neoliberais, libertarianistas, em torno ao tema de uma certa concepção da liberdade e da defesa do Estado mínimo.
A terceira peça é uma resenha didática, feita por Gleyton Trindade, do livro “Brasil dos Bancos” (Editora da USP, 2012), de Fernando Nogueira da Costa. O livro que constitui o trabalho de um longo trabalho de pesquisa nos traz uma valiosa história da formação dos bancos privados e públicos no Brasil, com ênfase no período das grandes mudanças ocorridas após os anos noventa.
A seção que busca refletir sobre a memória das tradições do marxismo, a partir dos valores do socialismo democrático, recupera e atualiza a importância do valioso ensaio de Rosa Luxemburgo sobre a revolução russa e seus impasses democráticos de origem. O ensaio de Rosa Luxemburgo é publicado a partir da valiosa tradução crítica de Isabel Loureiro, cujas edições recentes têm renovado para uma nova geração o acesso e a reflexão sobre as contribuições duradouras da grande revolucionária polonesa à construção de uma cultura do socialismo democrático no século XXI.
A seção internacional traz uma valiosa contribuição de Hugo Moldiz Mercado, editor do semanário La Epoca, sobre a história, a evolução e os desafios atuais da revolução boliviana. Impressiona o valor desta síntese, elaborada a partir de dentro mesmo do processo, em sua capacidade de refletir de modo engajado mas aberto sobre este processo histórico cuja singularidade vem aportando novos ensinamentos à esquerda latino-americana e mundial.
A seção memória do jornal Em Tempo traz a mais rica cobertura e documentação que se fez sobre a histórica greve dos metalúrgicos de Volta Redonda, realizada em 1988 e que marcou, com heroísmo e sangue, a conjuntura de radicalização do movimento operário brasileiro e que quase levou Lula à presidência do país. O artigo, elaborado em campo por Isaac Akclerud e lideranças metalúrgicas da greve, é uma oportunidade para as novas gerações conhecer e lembrar este que foi um dos maiores quadros da militância e do jornalismo de esquerda do país.
Marisa Mello nos traz uma interessante resenha crítica sobre Graciliano Ramos, o grande escritor comunista brasileiro, indicando o valor desta obra na cultura brasileira e para a formação da própria esquerda no país.
Joaquim Soriano recolheu as palavras de Leonardo Padura e comentou o livro “O homem que amava os cachorros”, obra literária que firmou na história da cultura cubana revolucionária. Um marco na consciência anti-estalinista.
E, por fim, uma homenagem a Manoel de Barros, um dos principais poetas brasileiros contemporâneos, que faleceu aos 94 anos de idade em novembro deste ano. O autor abordava com frequência a temática da natureza, especialmente o Pantanal; além de objetos que não possuem valor de troca; e personagens desligados do modo de produção capitalista, como loucos, andarilhos e vagabundos. É considerado um poeta da Geração de 45 do Modernismo, mas misturava estilos com originalidade.
De memória, razões novas, de novas prosas e poesias, é constituído este número 2 da revista Democracia Socialista, que veio para durar.
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