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Revolução democrática avança no Chile | Jeferson Miola

O povo chileno está dando um exuberante exemplo de vigor democrático e de poder popular no plebiscito que define o presente e o futuro do país e que enterra em definitivo o espectro do ditador sanguinário Augusto Pinochet – o facínora que inspira Paulo Guedes, Bolsonaro e o governo militar brasileiro.

O plebiscito foi adiado sucessivamente devido à pandemia. A oligarquia presidida por Sebastián Piñera, contudo, aproveitou o pretexto pandêmico para tentar, de todas as formas, sabotar e cancelar o exercício da soberania popular. Mas não conseguiu.

No plebiscito [25/10], a população decidiu a respeito de 2 questões: [1] se concorda com a elaboração de nova Constituição para o país em substituição à Constituição pinochetista de 1980; e [2] se entende que a nova Constituição deve ser elaborada por um Congresso constituinte misto, integrado por atuais parlamentares mesclados com constituintes eleitos; ou se a nova Constituição deve ser elaborada por uma Assembleia Constituinte exclusiva, soberana e específica para tal fim.

Estima-se que um enorme contingente dos 14,7 milhões de chilenos/as aptos/as a votar tenham acorrido às salas de votação, significando um recorde de participação popular em episódios eleitorais do país.

Os dados avançados da apuração, irreversíveis a essas alturas, confirmam a vitória estrondosa de quase 80% de votos a favor da convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva, soberana e específica, a ser escolhida na eleição de 11 de abril de 2021 para escrever a nova Constituição que vai substituir a Carta fascista e ultraliberal imposta por Pinochet em 1980.

Em março passado, a pressão popular já tinha conquistado a aprovação de Lei que estabelece a paridade de gênero da representação da Assembleia Constituinte. Isso significa que dentre os/as 155 constituintes eleitos/as, metade deverá ser, obrigatoriamente, de mulheres.

Não foram poucas as dificuldades interpostas pelo governo Piñera, pelos setores militares do país e pelas oligarquias vassalas servis aos EUA para reprimir e impedir o exercício da soberania popular. Mesmo considerando a supremacia da expressão popular, o casuísmo da elite exige que, para ser aprovada a mudança constitucional, 66% da população deve aprová-la.

Não faltou truculência e o uso letal de armamentos israelenses na repressão pelas forças de segurança do Ministério do Interior à gigantesca onda de protestos no Chile, iniciada há um ano atrás.

A despeito disso, o povo chileno afrontou o establishment, avançou na resistência ao totalitarismo neoliberal e radicalizou a luta democrática.

Allende, no seu último e dramático discurso em vida transmitido pela Rádio Magallanes às 10:10h da manhã de 11 de setembro de 1973 no Palácio de La Moneda, instantes antes de ser assassinado pelos gorilas fardados liderados por Pinochet, proferiu as seguintes palavras:

Trabajadores de mi patria, tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo en el que la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor”.

As palavras proféticas de Allende, proferidas 47 anos atrás, agora ganham concretude na revolução democrática que avança no Chile.

O povo chileno abre as grandes alamedas por onde passa o homem livre, para construir uma sociedade melhor e igualitária.

 

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