O superpedido de impeachment apresentado ontem, 30/06, contra o presidente Jair Bolsonaro, por dezenas de parlamentares, partidos políticos, pessoas e entidades de representação da sociedade civil, entre as quais a Associação Brasileiras dos Juristas pela Democracia (ABJD), cossistematizadora do documento final, é muito mais do que a unificação dos mais de cem pedidos anteriores. Trata-se da formalização de um consenso social já devidamente demonstrado nas ruas entre brasileiras e brasileiros que se insurgem contra o estado de coisas delituosas estabelecido no país pelo atual presidente e que refletem na hecatombe geral que tomou conta da nação em todas as áreas: econômica, política, social, cultural, ambiental, e, especialmente sanitária. Trata-se de uma aliança contra a selvageria e o morticínio, um grito da ciência contra o negacionismo, da vacina contra a morte. Um pedido de quem quer viver e deseja que também o país siga vivendo. Um chega para lá definitivo no atraso civilizatório, na ignorância, na barbárie.
Desde o início do mandato, Jair Bolsonaro já infringiu quase todos os incisos do Art. 85 da Constituição, cometendo toda sorte de crimes de responsabilidade. Infrações que assacam contra a segurança interna, a harmonia dos poderes, a estabilidade da federação, os direitos individuais, sociais e políticos, a ordem jurídica, o cumprimento da lei, a probidade na administração. Um rol de abusos sistemáticos e reiterados, agravados pelas denúncias recentes de corrupção, que desafiam o equilíbrio institucional e a paz social com imposição de terror administrativo e acirramento de ódio, e repercussões que são contabilizadas em direitos subtraídos, sonhos interrompidos, vidas ceifadas. São mais de quinhentas mil vítimas de uma guerra que poderia ter sido atenuada se a mais alta autoridade do Brasil não tivesse adotado uma postura de tanto desdém com as recomendações científicas por implicância negacionista ou interesses espúrios.
O superpedido é uma aposta altíssona no Brasil, um sopro de esperança. Sua legitimidade exige que o presidente da Câmara não o negligencie, recebendo e providenciando correspondente diligência segundo os trâmites internos do processo de impedimento. Se não o fizer, endossará as ofensas presidenciais à Constituição e a agredirá diretamente por negação do comando que lhe impõe agir diante da existência de cometimento de crime de responsabilidade. Ferirá a ética parlamentar e espezinhará o fundamento da democracia representativa, cujo alicerce é a sintonia com o desejo da coletividade.
Não há alternativa diversa para o presidente da Câmara nem para ninguém. Não há mais o que esperar: impeachment, já, para o minúsculo presidente do Brasil. Fora Bolsonaro!
- Marcelo Uchôa é Advogado e Professor Doutor de Direito da Universidade de Fortaleza. Membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) – Núcleo Ceará. Twitter: @MarceloUchoa_
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Comente com o Facebook