Por Alberto Pradilla, de Atenas (Gara)
Tradução: Chico Vicente.
Alexis Tsipras será novamente Primeiro-ministro Grego. O líder do Syriza confirmou sua vitória sem acusar o desgaste de sete meses de gestão que terminou com a assinatura do terceiro resgate sob fortíssimas pressões de Bruxelas. Manterá sua aliança com ANEL e confia que seu triunfo sirva para mudar a correlação de forças na Europa.
“A partir de amanhã as coisas não serão iguais. Iniciaremos uma luta para mudar a Europa”. Alexis Tsipras, Primeiro-ministro Grego, ao ser reeleito para liderar o governo grego virou o foco das atenções de Bruxelas. Com a apenas 60% e uma diferença intransponível de sete pontos em relação à Nova Democracia, Tsipras se apresentava na Praça Klaftmonos, no centro de Atenas, para ser aclamado por seus seguidores. “O povo grego nos deu este mandato para seguir lutando por seus direitos”, proclamou, lançando três linhas mestras para os quatro anos de legislatura: mudança no modelo econômico, luta contra a corrupção e trabalho na Europa para mudar a correlação de forças. “O povo grego nos deu um mandato claro: continuar a grande batalha que começamos meses antes”, argumentou.
Sete meses depois de seu primeiro triunfo eleitoral e apena dois depois do referendo que precedeu a assinatura do terceiro resgate, Tsipras demonstrou que a resignação que se prolonga na Grécia não cortou excessivamente seu apoio nas urnas. Se alguns assentos do Parlamento ficaram pelo caminho (na realidade quatro, de 149 para 145, a espera do resultado final), os dez deputados conquistados por ANEL, a direita nacionalista, lhe permitirão manter o governo de coalizão. Tal como dizia à Gara, Yorgos Vasiliadis, antigo responsável pela anticorrupção e membro da direção de Syriza, as negociações para formar o governo começaram ainda na noite de domingo. No dia da eleição, Tsipras demonstrou sua sintonia com Panos Kamenos, ex-Ministro da Defesa e líder do ANEL, ao comparecerem juntos para celebrar o triunfo. Com os números nas mãos pode-se dizer que os resultados deixam a sensação de que tudo se move para seguir igual. E isso que a participação caiu sete pontos em relação a janeiro, situando-se em 56%.
Das eleições
A vitória de Tsipras oferece ao menos duas lições. Por um lado a escassa confiabilidade das pesquisas, que projetaram um resultado apertado entre a coalizão de esquerdas e a Nova Democracia. É a segunda vez em dois meses que não acertam, já que isto também ocorreu durante o referendo, quando prognosticavam um empate técnico e tiveram que engolir um aplastante 62%.
A segunda leitura do amplo triunfo é a diferença entre a percepção que a população grega tem das decisões de Tsipras e a visão sobre estas que se estende a outros países da Europa. Enquanto no exterior se da muita ênfase ao discurso das “vacilações” de Syriza, muitos dos cidadãos gregos acreditam que o Primeiro-ministro esgotou todas as vias a seu alcance para a negociação. Por isto sua posição sai reforçada apesar de ter firmado um memorando que inclui medidas que ele mesmo rechaçava.
Entretanto, não se pode interpretar o triunfo de Syriza como um apoio às políticas de austeridade. Existe um grande espaço entre o rechaço às imposições da troika e a oposição decidida de sair do euro, que era o que defendiam KKE e a Unidade Popular. Este último, racha do Syriza, são alguns do grandes derrotados, já que lhes faltaram poucos votos para entrar no Parlamento. Um duro golpe que também afetará o ex-Ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, que entrou na campanha na ante véspera para apoiar seus antigos companheiros que haviam rompido com Tsipras.
A vitória de Syryza está longe daquelas de janeiro e julho, consideradas épicas. O ambiente na tenda da Praça Klaftmonos foi um exemplo. Contudo, o importante destas eleições era mais sobre o que podia perder-se do que as possibilidades de avanços. Agora, Tsipras tem pela frente a responsabilidade de gerir um resgate que ideologicamente rechaça e que foi imposto em condições muito duras. Ao mesmo tempo, tratará de contribuir para as mudanças na Europa. É ai que se joga o jogo.
Dezenas de reformas que devem se aplicadas antes de outubro
Para liderar o novo governo Tsipras tem pela frene um intenso calendário para implementar as reformas nas “instituições” em troca do regaste de 86 milhões de euros, firmado no último mês de agosto. De acordo com o plano que Tsipras acordou com o Banco Central Europeu, a Comissão Européia e o Fundo Monetário Internacional, Atenas terá que por em marcha um ambicioso plano que será avaliado pela antiga troika antes que o FMI (que tem se apresentado como defensor da renegociação da dívida) entre nas negociações.
As negociações que devem ser assumidas pela Grécia vão desde o âmbito financeiro, onde terá que implementar um projeto de recapitalização e facilitar que as entidades passem para mãos privadas, até a administração que terá que ser amplamente reformada em setores como energia, impostos, seguridade social, sistema judiciário e sistema trabalhista. Além disto, terá que pisar o acelerador no fundo de privatizações que compromete 50 trilhões de euros. Em tal “catálogo” se oferecem bens estatais como a gestão das autopistas, da água de Atenas e Tesalônica ou ações da companhia de gás.
Amanhecer Dourado situa o fascismo em terceiro lugar
Amanhecer Dourado, a formação neonazista, reafirmou sua terceira posição e se converte em um dos vencedores das eleições. Ao término desta edição (faltando ainda contabilizar uns 20% dos votos) havia obtido 7% dos sufrágios e 19 cadeiras. O auge da formação ultradireitista, que tem muitos de seus dirigentes na cadeia ou acusados, é preocupante. Na verdade ele conseguiu situar-se como o partido mais votado entre aqueles gregos que não têm trabalho. Além disto, também obtém bons resultados na franja de eleitores mais jovens. Seus apoios têm se multiplicado em regiões como Mytilene, capital de Lesbos, ilha por onde chegam, diariamente, centenas de refugiados. Uma tendência que alimenta o temor de um recrudescer da violência xenófoba que tem sido habitualmente praticada pelo Amanhecer Dourado.
A outra cara do sucesso relativo dos nazistas são os liberais de Ton Potami e o Pasok. Ambos apostavam em ser partidos “dobradiça” e poder jogar um papel chave na formação do governo, porém seguiram na irrelevância. A nova Democracia tampouco cumpre suas expectativas. Havia se apresentado como a garantia de “estabilidade” que reclamava a troika, porém, ficou, novamente, muito atrás de Syriza.
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