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Tsipras: “Ameaça de Grexit só acaba com a assinatura do programa”

2446304Original em www.esquerda.net

Na entrevista ao canal público de televisão, o primeiro-ministro grego recusou o cenário de eleições antecipadas. Tsipras assumiu a responsabilidade por assinar um acordo que lhe foi imposto e em que não acredita, mas que evitou o desastre inscrito no plano dos “conservadores extremistas europeus”: expulsão da Grécia do euro, com dose reforçada de austeridade em troca de ajuda humanitária. Mas até à assinatura final do programa nenhum cenário está fechado, avisa.

“Assumo as minhas responsabilidades por todos os erros que possa ter cometido, assumo a responsabilidade por um texto em que não acredito, mas que assino para evitar o desastre para o país”, disse o primeiro ministro grego na primeira entrevista após aquela “noite má para a Europa” em que a forma como a Grécia foi tratada “não honra a tradição de uma Europa democrata”, com a maioria dos países a ter uma “posição dura e vingativa”. Tsipras diz que o Grexit nunca foi uma alternativa que o governo pudesse aceitar, por não ter reservas suficientes para regressar ao dracma, provocando o colapso dos bancos e uma catástrofe humanitária. “Falei com a Rússia, com a China e com os Estados Unidos e não havia outra escolha”, pelo que preferiu bater-se em Bruxelas pelo melhor acordo possível, acrescentou.

Nesta entrevista, o primeiro-ministro garantiu que lutou com todas as forças para defender os salários e as pensões, mas não escondeu que, apesar de não haver cortes, o poder de compra dos gregos irá diminuir com as medidas previstas no acordo. Ainda assim, Tsipras considera que o texto que assinou em Bruxelas é melhor que o ultimato rejeitado pelos gregos nas urnas, logo à partida porque afasta a possibilidade de Grexit, ao garantir as necessidades de financiamento a médio prazo e a reestruturação da dívida. “Temos um acordo com reformas duras, mas não o beco sem saída do ultimato com que fomos confrontados a 25 de junho”, defendeu.

Falando das medidas em concreto, Tsipras discordou das mexidas no IVA, cujos aumentos trarão certamente efeito recessivo, mas não necessariamente aumento da receita fiscal. “Quanto maior a taxa, menos gente paga… mas foi isso que eles quiseram”, lamentou, admitindo que o impacto no poder de compra possa ser compensado com outras medidas. Sobre a reforma das pensões, com o aumento da idade de reforma para os 67 anos, que já estava incluído na proposta anterior de Atenas, Tsipras explicou que é uma medida correta. E quanto ao fundo que servirá de garantia ao empréstimo, Tsipras revelou que a proposta inicial de Merkel seria usar as receitas todas para abater a dívida.

Comparando as ações prévias agora exigidas pelos credores e que irão a votos no parlamento esta quarta-feira e nas semanas seguintes, Tsipras diz que elas são as mesmas que estavam a ser discutidas antes do referendo. “Temos de ser sinceros sobre isso. Só que agora temos um período de financiamento maior e alívio da dívida”, prosseguiu, prometendo também que as leis já aprovadas, como a reintegração das funcionárias de limpeza do Ministério das Finanças ou dos trabalhadores da tv pública, não correm risco de voltar atrás.

Tsipras sobre o Syriza: “Não obrigarei ninguém a fazer aquilo que não quer”

Manter a estabilidade no país e na maioria que apoia o governo é a nova prioridade do primeiro-ministro, que acredita que irá cumprir os quatro anos de mandato. “Tenho a certeza que os grupos conservadores extremistas europeus ficavam contentes se o nosso governo fosse um parêntesis”, afirmou Tsipras, lembrando que o Partido Popular Europeu junta Merkel, Juncker, Tusk e a Nova Democracia, o principal partido da oposição ainda em busca de novo líder. Alexis Tsipras diz ainda acreditar que “a Europa pode mudar”, se por exemplo as eleições em Espanha trouxerem bons resultados para as forças “próximas do Syriza”.

“O pior que um comandante pode fazer quando está ao leme do navio no meio da tempestade, por mais difícil que seja, seria abandonar o leme”, respondeu Tsipras sobre as conclusões políticas de uma eventual perda da maioria de suporte do governo na votação de quarta-feira. Quanto a possíveis demissões de governantes que se oponham à decisão de assinar o acordo, Tsipras respondeu que “no nosso partido, eu não posso expulsar ninguém e cada um assume as suas responsabilidades”.
“Não obrigarei ninguém a fazer aquilo que não quer”, garantiu Tsipras, contrapondo que “não vou aceitar que alguém me acuse de não ter respeitado os valores da esquerda e do povo grego” nas decisões “críticas” que foi obrigado a tomar.

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