Portal FPA – Qual é legado do pensamento de Maria da Conceição Tavares para o Brasil?
Juarez Guimarães – O legado é imenso e está vinculado à crítica histórica que se fez da tradição da Economia Política da Riqueza e da Renda, os pensamentos que legitimam, reproduzem e atualizam a concentração, por todas as razões, escandalosa da renda no Brasil. Ao se tornar a principal representante entre nós desta tradição crítica, o pensamento e a militância da professora Maria da Conceição Tavares incorporaram-se à nossa cultura democrática, aos anseios do povo brasileiro em sua luta pela emancipação. É, pois, um pensamento que pode ser considerado um clássico, um patrimônio da nossa inteligência pública.
Este legado percorre praticamente cinco décadas e é formador, junto com Celso Furtado, das tradições democráticas e de esquerda do nosso pensamento econômico. Sua inteligência analítica revelou-nos muito do que sabemos do capitalismo brasileiro. Sua atuação como professora formou várias gerações de economistas.
Portal FPA – Como você se preparou para a entrevista com a professora Conceição Tavares?
Juarez Guimarães – Contei com a colaboração do maior historiador das idéias econômicas do Brasil e , em grande medida, da América Latina que é Ricardo Bielchowsky. O estudo das várias fases de formação e do pensamento da autora estudada permitiu uma visão de totalidade, de coerência e sentido do seu trabalho intelectual que prossegue. O meu trabalho de estudo, docência e pesquisa do pensamento político e social brasileiro me permitiu compreender melhor o lugar do pensamento da professora Maria da Conceição Tavares na formação da nossa tardia e incompleta tradição republicana e socialista democrática.
Portal FPA – A atuação de Conceição Tavares como acadêmica e militante é notória. Qual é sua percepção sobre a influência dela nas novas gerações de economistas e pensadores brasileiros?
Juarez Guimarães -Se coube a Celso Furtado fundar o conceito de subdesenvolvimento e criar um método histórico -estrutural adequado à compreensão do nosso capitalismo periférico e retardatário, desigual e combinado, coube principalmente a Maria da Conceição Tavares formular o entendimento das dinâmicas endógenas e financeiras de seu desenvolvimento, de seus ciclos de expansão e crise, em relação com as novas dimensões financeiras internacionais. Além disso, na linha de Celso Furtado, há um legado ético transmitido às novas gerações de economistas por esta humanista e seu sempre renovado compromisso com os que são espoliados pela dinâmica mercantil. A esperança na capacidade do povo brasileiro sopra sempre nas palavras de Maria da Conceição, mesmo quando ditas em tempos sombrios, de ditadura e obscurantismo, como lhe foi dado viver.
Portal FPA – A quem se destina este livro sobre Maria da Conceição?
Juarez Guimarães – Este livro, enriquecido pelos ensaios de Ricardo Bielchowsky, Emir Sader e por dois professores da Unicamp e da UFMG, dois centros formados em relação com a tradição encarnada pela professora, é a primeira obra coletiva inteiramente dedicada à obra de Maria da Conceição Tavares. Creio que através dela se pode adquirir maior clareza sobre a importância desta pensadora para todos nós brasileiros que almejamos um Brasil democrático e justo. Portanto, ele pode ser lido por um público amplo, não apenas universitário.
Portal FPA – Sobre a coleção Intelectuais do Brasil, qual é o objetivo deste projeto? Quais são os próximos intelectuais a serem entrevistados?
Juarez Guimarães – O objetivo da coleção “Intelectuais do Brasil”, que vem sendo editada pela Editora da Fundação Perseu Abramo e Editora da UFMG, é o de constituir um amplo painel de leitura crítica de grandes intelectuais e artistas que formaram já uma obra consistente de interpretação do Brasil e ainda estão entre nós. Não são livros de homenagem mas concebidos como de reflexão e de diálogo, no qual participam os próprios autores e criadores estudados. Saíram já quatro volumes: Silviano Santiago, Evaldo Cabral, Bóris Fausto, Leonardo Boff. Este ano, além do livro sobre Maria da Conceição Tavares, estão previstos mais dois volumes, sobre o sociólogo Gabriel Cohn e sobre o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.
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