O balanço das eleições 2020 aponta para a urgência estratégica de construção de uma frente de esquerda orgânica e permanente para fazer o enfrentamento cotidiano ao governo genocida, autoritário e entreguista de Bolsonaro.
A experiência nos mostrou, inclusive, que a base social está mais avançada neste sentido do que as direções partidárias. No segundo turno, onde a esquerda esteve presente, a unidade dos partidos impulsionou a participação entusiasmada de milhões de pessoas.
Ao mesmo tempo, a direita neoliberal não hesitou em radicalizar o discurso e construir pontes com a extrema direita para derrotar as candidaturas populares. Preferem jogar água no moinho do negacionismo e de lideranças e movimentos que flertam abertamente com o fascismo. Para estes, a democracia é um acessório dispensável, desde que mantidos os lucros da burguesia. Cabe lembrar que, imediatamente após as eleições, as bancadas da direita e da extrema direita uniram-se para tentar drenar os recursos do Fundeb e direcioná-los para a iniciativa privada!
É neste caldo de cultura que se iniciam os debates sobre a eleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado: a expectativa de amplos segmentos sociais pela construção imediata, com um centro político comum e coordenado, da frente de esquerda para derrotar Bolsonaro e os neoliberais.
Desvincular a luta parlamentar do debate mais amplo existente na sociedade e da construção de uma alternativa estratégica para o país é um erro brutal. Secundarizar a busca por uma síntese que organize as bancadas dos partidos de esquerda em um bloco comum, optando por negociações fragmentadas com a direita fisiológica – seja o bloco momentaneamente em conflito com o governo, seja o que convenientemente ocupa cargos e parasita recursos no aparelho de Estado – é retroceder na politização do enfrentamento ao governo, aumentar a confusão da antipolítica e facilitar as coisas para o governo Bolsonaro.
O PT, pelo tamanho da sua bancada, experiência e capacidade de direção, deve assumir a responsabilidade de organizar o debate e impulsionar um bloco parlamentar que reúna as bancadas de esquerda, apresentando uma plataforma que combine as reivindicações importantes para a luta parlamentar – o funcionamento da Câmara e do Senado com caráter pluralista, respeitando a proporcionalidade das bancadas e suas presenças na mesa diretora e nas comissões, e aberta à presença e pressão da sociedade civil – com bandeiras nítidas e que dialoguem com os objetivos gerais da luta das esquerdas: a defesa da soberania nacional, combatendo as atrocidades realizadas pelo governo na Amazônia, protegendo o patrimônio nacional e as empresas públicas; o fim do teto de gastos, garantindo investimentos na educação e no SUS; a defesa dos direitos trabalhistas e dos salários; uma agenda de combate à pandemia com garantia de vacina para todos e a prorrogação do auxílio emergencial; a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos das mulheres, negros, indígenas e LGBTs; e o impeachment de Bolsonaro.
Isolados ou divididos não teremos a mínima capacidade de enfrentar a agenda ultraliberal que unifica todos os segmentos da direita brasileira. Unidos, temos condições melhores de incidir não apenas nas disputas parlamentares, mas principalmente de sinalizar para a sociedade a formação de um bloco atuante em todos os espaços, com potencial de dirigir as lutas democráticas e de impulsionar uma alternativa de poder para o país.
Democracia Socialista
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