Por Dr. Rosinha *
Chego a Bruxelas no domingo (20), dia das eleições na Espanha. Esta eleição deu a maior vitória ao Partido Popular (PP), de direita, desde 1982. Agora, o PP tem o controle absoluto por lá.
A Câmara dos Deputados da Espanha tem 350 cadeiras. E o PP pulou de 154 para 186 parlamentares, uma maioria folgada. Já o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) caiu de 169 para 110 deputados.
Os socialistas do PSOE perderam, da última eleição para esta, cerca de 4,5 milhões de votos. No entanto, o PP só cresceu 550 mil votos. Ou seja, o PSOE perdeu para ele mesmo. Para onde foram os votos do PSOE?
Uma grande parte, por não acreditar mais nos “socialistas”, não compareceu para votar. Uma pequena parte, 700 mil, votou na Esquerda Unida (IU), que só tinha 2 deputados e acabou elegendo 11.
A contagem final dos votos mostrou uma grande derrota do PSOE, que teve o pior resultado de sua história.
Como imaginava e escrevi no artigo anterior, antes de viajar para Bruxelas, levei na bagagem certo ceticismo. E não deu outra: Os “socialistas” europeus não fazem a avaliação de suas derrotas. Viajei levando ceticismo e voltei cético em relação a esses “socialistas”.
Após quase uma semana de reuniões em Bruxelas, tenho a sensação de que pelo menos por uma década a Europa vai navegar, política e economicamente, por mares revoltos. Não houve, no encontro Eurolat, como eu esperava, nenhum debate sobre a crise da União Europeia, pelo contrário, além de dar a impressão que nada está ocorrendo, persistem em nos ditar regras. Pior, há alguns parlamentares da América Latina que aceitam, sem sequer espernear, as ideias “socialistas” destes partidos.
O Encontro de Progressistas e Democratas europeus com seus similares da América Latina abordou, sem ir ao cerne da questão, timidamente, a crise. O fez, com alguma exceção, mais para responder os questionamentos dos latino-americanos que de mote próprio.
Participei, no dia 25, de uma Convenção do Partido Socialista Europeu (PES). Segundo Philip Cordery, secretário-geral do Partido dos Socialistas Europeus, estavam inscritas nesta convenção duas mil pessoas.
Era um fórum aberto à sociedade e cujo objetivo, segundo Cordery, era dar resposta política à crise econômica. Era para responder à direita, que avança na Europa, que quer impor o programa “AAA”: austeridade, austeridade, austeridade.
Paul Nyrup Rasmussen, presidente do PES, disse que Angela Merkel e Nicolas Sarkozy dão ordens como se a Europa fosse deles, e pergunta: “É essa a Europa que queremos? Construímos a Europa para eles?” Não sei se terão a resposta muito em breve.
E assim foram os pronunciamentos e debates durante o período em que lá estive. Os discursos políticos eram de oposição aos ditames do Fundo Monetário Internacional e do Banco Central Europeu. Mas o que fizeram os “socialistas’ europeus enquanto estiveram no governo?
Fizeram tudo que o sistema financeiro mandou: austeridade, austeridade, austeridade. Privatizaram, suprimiram empregos no serviço público, achataram salários, cortaram direitos de aposentados, ou seja, tudo que a direita faz e o que o “senhor depende” fará na Espanha.
Para quem não leu o artigo anterior, Mariano Rajoy, vencedor das eleições na Espanha, é o “senhor depende”. Todas as perguntas que lhe são feitas ele responde com um “depende da …”.
Depende do que Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, David Cameron, o FMI e os banqueiros mandarem. E eles mandarão que continue privatizando, cortando emprego e salário dos servidores, como está ocorrendo em Portugal: corte de dois meses de salário de seus funcionários.
Volto cético e não tem como ser diferente. Não ouvi nenhuma auto-crítica e o homem mais aplaudido e festejado da convenção do PES foi George Papandreou, presidente da Internacional Socialista e que, enquanto governo na Grécia, fez tudo que o sistema financeiro mandou.
Só quando sua situação estava insustentável é que lembrou da existência do povo. Ameaçou fazer um plebiscito para medir se o povo aceitava ou não as reformas impostas pela União Europeia. Foi apeado do governo por aqueles que mandam: o sistema financeiro.
Dr. Rosinha, médico pediatra, é militante da Democracia Socialista, deputado federal (PT-PR) e ex-presidente do Parlamento do Mercosul.
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