Entrevista realizada por William Pedreira com o secretário nacional de Juventude da CUT, Alfredo Santos Junior, para o Portal Mundo do Trabalho
Ir até a base, identificar as pautas e demandas da juventude trabalhadora e, com estas informações e propostas, organizar uma publicação que orientará a atuação dos sindicatos nas negociações coletivas e na luta por políticas públicas para a juventude. Este é o eixo central da Jornada Nacional da Juventude Trabalhadora.
Em reunião do Coletivo Nacional, realizada no começo do mês, em São Paulo, definiu-se o cronograma e o planejamento de execução da Jornada para o próximo período. “O relatório do planejamento sai com prazos e responsáveis para cada atividade. Algumas questões como a construção da Jornada, a elaboração do relatório, a concentração das informações, ficarão como responsabilidade da Secretaria Nacional da CUT, mas essencialmente a execução de boa parte das atividades ocorrerá pelos secretários estaduais e dos ramos que compõem o Coletivo Nacional”, explicou Alfredo Santos Junior, secretário nacional de Juventude da CUT, em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho.
O dirigente da CUT falou também sobre os desafios, as etapas de execução e como a Jornada chegará à base da Central, com o intuito de consolidar avanços e novas conquistas para a juventude trabalhadora. “O que a gente está propondo é levar a Central para o local de trabalho. Quem vai produzir a política e o resultado desta Jornada será o/a jovem trabalhador/a”, frisou.
Leia abaixo a íntegra da entrevista
Quando surgiu a ideia de organizar esta Jornada Nacional da Juventude Trabalhadora? Como será trabalhado este projeto?
Foi identificado, desde o 11º Congresso Nacional da CUT, que a Secretaria de Juventude obteve um acúmulo importante no mandato anterior, no ponto de vista das relações institucionais e internacionais, junto aos demais movimentos sociais, ao governo federal, ao Conjuve (Conselho Nacional da Juventude), dando visibilidade a pauta da juventude trabalhadora. O nosso objetivo agora é promover a continuidade do trabalho realizado, dando um passo além ao buscar a promoção de políticas para dentro do movimento sindical, na negociação coletiva de cada sindicato, organizando as demandas da juventude trabalhadora no local de trabalho. Alguns sindicatos possuem, por exemplo, clausulas de conciliação trabalho e estudo, de saúde do trabalhador jovem, mas não temos uma ação organizada da juventude CUTista.
Debatendo esta questão no planejamento da CUT Nacional, percebemos que uma alternativa seria formular uma estratégia de ação a partir de uma Jornada Nacional da Juventude Trabalhadora, com o objetivo de mobilizar a juventude para construir propostas sobre as relações de trabalho, nas negociações coletivas dos sindicatos e, também, sobre a juventude rural. Via de regra, na agricultura familiar você tem dois tipos de negociação que essa jornada pretende debater: no caso do trabalhador assalariado rural que se assemelha com o meio urbano via negociação coletiva e o trabalhador rural da agricultura familiar onde as negociações se dão por acesso e desenvolvimento de políticas públicas.
Como que a Jornada pretende incorporar as demandas da juventude rural em relação às políticas públicas?
Existem algumas experiências, mas os jovens têm dificuldade de acesso por uma série de motivos, mas principalmente pelo sistema extremamente burocratizado, como no caso do financiamento rural. Nós temos informações do porque, mas não temos uma ação coordenada pela Central para que os sindicatos atuem conjuntamente, visando obstruir essas dificuldades que a juventude rural tem no acesso a essas políticas públicas. Ou mesmo dizer se as políticas existentes atendem de fato a demanda, porque muitas vezes são gestadas em Brasília, sem levar em consideração a diversidade existente no Brasil. Trabalhar com a diversidade é um dos desafios e objetivos desta Jornada.
E como será a relação com os estados e ramos? Como que esta Jornada chegará na base?
A ideia é chegar ao final com propostas que serão reunidas em uma publicação, orientando a atuação dos sindicatos nas negociações coletivas e na luta por políticas públicas para a juventude.
A oficina de planejamento do Coletivo Nacional da Juventude teve o papel de definir e dividir tarefas. O relatório do planejamento sai com prazos, responsáveis para cada atividade. Algumas questões como a construção do projeto, a elaboração do relatório, a concentração das informações ficarão como responsabilidade da Secretaria Nacional da CUT, mas essencialmente a execução de boa parte das atividades ocorrerá pelos secretários estaduais e dos ramos que compõem o Coletivo Nacional.
Uma segunda etapa é de que estes secretários estaduais, por exemplo, reúnam–se com os seus coletivos para que, por sua vez, comprometam os sindicatos de base a se integrarem nesta Jornada.
A Jornada será construída a partir de três temas gerais: conciliação trabalho e estudo; igualdade de oportunidades; e saúde do trabalhador…
A ideia de definir estes eixos é mais uma questão organizativa do que uma questão prática. Não é um engessamento, apenas uma orientação de como vamos nos organizar. São três eixos que contemplam praticamente tudo.
Qual o planejamento desta Jornada?
A Jornada já começou. A ideia é que em 2013 a gente consiga atuar com maior intensidade, realizando grandes encontros estaduais e regionais, da juventude urbana e rural.
Esta primeira fase, que deve durar até o meio de 2013, consiste em levar a Jornada para as Federações, Confederações e Estados. Uma vez que as estaduais e ramos tenham executado este planejamento, atuando junto aos sindicatos de base e nos locais de trabalho, propostas de clausulas e de políticas públicas tendem a surgir.
Uma vez que foi feito o levantamento das pautas, começa a tarefa de como conquistá-las. O fato de dizermos, por exemplo, que é preciso que os sindicatos tenham pautas de conciliação entre trabalho e estudo não significa que o empresário vai aceitar. Aí começa uma segunda fase que é como devemos organizar a luta para que os patrões aceitem ou sejam levados a incluir nas negociações coletivas as pautas da juventude trabalhadora.
Vamos discutir também a construção de novas políticas públicas, como por exemplo, a questão da sucessão rural que é um grande desafio hoje. Definir políticas públicas que garantam a sucessão da propriedade para o jovem é de extrema importância que permitirá a permanência deste jovem na zona rural. É um debate que deve surgir ao longo da Jornada, mas sua efetiva realização vai depender de uma segunda fase que é mobilização e luta.
Tanto na CUT Nacional como nas estaduais, nada disso ocorrerá se não tivermos o envolvimento com todas as outras Secretarias. Esta tem que ser uma tarefa da CUT com um todo, na perspectiva de que hoje boa parte dos trabalhadores são jovens. A ratificação desta Jornada deve significar uma aproximação muito maior da CUT junto aos trabalhadores, que favorecerá a Central numa disputa de hegemonia seja na sociedade, seja no movimento sindical ou na disputa com o capital.
Qual a sua expectativa em relação aos resultados do projeto?
É uma cadeia de eventos que visa ao final conseguirmos contemplar o máximo da diversidade da juventude que existe no País e, ao mesmo tempo, ter uma orientação coordenada nacionalmente no que é pauta da CUT.
Uma pergunta que muitas vezes se faz é: quais as bandeiras, campanhas, as principais pautas que a juventude trabalhadora tem para com o governo e empresários hoje? Quem vai definir isso será a Jornada. Identificar essas principais demandas e, a partir delas, deliberar os caminhos de luta.
É um desafio muito grande que estamos nos propondo fazer. Envolver a base da maior central sindical da América Latina é fugir completamente da crítica que às vezes se faz de que as centrais sindicais tem uma posição populista, se afastam da base. O que estamos propondo é o caminho inverso. É levar a CUT para o local de trabalho. Quem vai produzir a política e o resultado desta Jornada será o/a jovem trabalhador/a.
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