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Maceió continua sendo destruída pela Braskem | Izael Ribeiro

Uma empresa que tanto lucra em cima da possibilidade de desaparecer com um pedaço da nossa cidade segue sólida e impune.

Robson Barbosa / AFP
Robson Barbosa / AFP

Crime. Não é uma tragédia, um desastre natural, é crime. Nos últimos anos, pelo menos seis. Maceió está testemunhando os sinais de um colapso se aproximando. Tremores, rachaduras, afundamentos: vários são os avisos da natureza de que ela não está suportando a exploração que está sendo feita. Quem está pagando por isso? O povo.

Na última semana, mais uma vez vimos nossa cidade ser manchete nacional com a notícia de uma tragédia anunciada. Informações imprecisas e desencontradas dizem que uma mina da Braskem (elas não estavam desativadas?) estaria afundando e que isso poderia gerar um colapso de proporções enormes. “É do tamanho do Maracanã”, chegamos a ouvir. A população inteira voltou a entrar em estado de alerta e pavor.

Este sentimento, vale lembrar, nunca abandonou algumas comunidades, que mesmo estando diretamente ligadas a outras que foram desocupadas, parecem ter sido esquecidas. 

O povo dos Flexais, que há tanto vem denunciando e gritando por socorro, que ficou isolado num espaço quase sem acesso aos serviços da cidade, agora foi arrancado de suas casas à força, sem tempo para retirar as coisas, sem uma justa indenização, sem perspectiva de um tratamento minimamente humano.

Essa tragédia vem consumindo Maceió, transformando vários bairros da cidade em verdadeiros bairros “fantasmas”. Milhares de famílias, empresas, comunidades e animais arrancadas/os de seus lugares sob ameaça, e até manifestações culturais atingidas. 

Assim como várias famílias, nós do Sinteal também somos vítimas desse crime. Nós que estávamos desde a fundação, em 1988, integrados à comunidade do Mutange, fomos expulsos da nossa sede, carinhosamente chamada de “Vila Amália”. Para além das perdas materiais, sabemos bem a dor de perder o chão sob os seus pés, de ter que reconstruir e recomeçar uma história sob os escombros de uma tragédia que poderia ter sido evitada.

Queremos esquecer, queremos seguir em frente, mas não é possível. Mesmo com a descoberta do problema em 2018, a causa não foi interrompida ainda. Aparentemente, ainda há agravamento do problema, ao invés da solução. Nesse período, muitas pessoas adoeceram, não conseguiram se recuperar, e até vidas foram perdidas. 

Os efeitos devastadores desse crime causado pela busca incessante do lucro já são sentidos por cada pessoa que vive ou tem uma mínima ligação com Maceió. Seja do ponto de vista ambiental, financeiro, histórico, cultural, humano ou tantos outros, temos descoberto quase que diariamente novos prejuízos causados pela Braskem. 

Esse é um crime ambiental, mas também social. Fruto da ganância capitalista que concede liberdade empresarial sem limites ou regulação, mesmo que isso acabe com o meio ambiente ou a vida das pessoas.

O poder público, tanto o Executivo quanto o Legislativo e o Judiciário têm também sua parcela de responsabilidade e omissão. Uma empresa que tanto lucra em cima da possibilidade de desaparecer com um pedaço enorme da nossa cidade segue sólida e impune. Segue negando sua responsabilidade sobre esse crime e bombardeando a população com propagandas como se estivesse generosamente ajudando a solucionar um problema, como se não tivesse sido ela mesma quem o causou. 

Vamos tomar as ruas! Há um grande movimento de luta com participação do Sinteal, CUT, associações de vítimas e outras instituições e pessoas que não se calam diante de injustiças e muito menos diante de um crime que destrói nossas vidas. 

Temos um calendário de mobilizações para cobrar respeito às vítimas, indenizações justas, realocações para locais mais adequados (ao invés de abrigos improvisados como se fosse um desastre natural inesperado).

É preciso estancar a sangria, parar essas operações, interromper o ataque da Braskem à vida das pessoas e da nossa cidade.

Izael Ribeiro é presidente do SINTEAL (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas) e secretário de Meio-Ambiente da CUT/AL

Via Brasil de Fato

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