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Os que souberam sofrer merecem ser felizes | Luiz Felipe Nelsis

Entrou no jargão futebolístico a expressão aprender a sofrer. Não tenho certeza da origem, mas de memória acho que foi Tite, grande frasista, treinador nem tanto, quando dirigia o Corinthians. Embora sempre tenha a impressão de que ele se dirigia aos espectadores daquele monótono time campeão por meio a zero, ele falava sobre a resiliência necessária para vencer.

Mas mesmo esportivamente podemos ter exemplos mais antigos e muito mais gigantescos daquele triste Corinthians. Como não lembrar de Ali versus Foreman no antigo Zaire, atual Congo. Este episódio expõe um indivíduo gigantesco. Campeão incontestável, perdeu a coroa por se recusar a ir lutar no Vietnan. Não pense que Ali (ou Classius Clay, na época) iria de verdade lutar. Estava reservado a ele aquela jaula dourada das apresentações no front de guerra e na propaganda na guerra pela opinião pública. A recusa de Ali não era, assim, pelo temor da guerra, era a solidariedade a milhares de negros que seriam carne barata nas selvas tropicais. Aqui estava a antecipação da luta: Ali sabia sofrer. Durante oito intermináveis assaltos, Ali recebeu golpes brutais de Foreman. Os golpes do imenso e poderoso Foreman teriam devastado a qualquer um, mas você sabe, Ali sabia sofrer. No início do oitavo assalto Ali encaixou três golpes seguidos e viu Foreman ir à lona em câmera lenta. Poderia ter castigado o adversário já desorientado e indefeso, mas acompanhou elegante e inofensivo a queda do seu oponente. Estava falando mais sobre apenas saber sofrer, estava falando que não era só um animal amestrado para agredir. A cena descrita com a prosa brutal de Norman Mailer, por um momento nos faz esquecer da violência do confronto para se transformar em uma poderosa metáfora da vida: o tal saber sofrer, mas sem que o sofrimento se transforme em amargura.

Tampouco falamos aqui daqueles que por não suportarem o sofrimento, desistem. Walter Benjamin, para muitos o mais importante autor da escola de Frankfurt, mas unanimamente o mais inventivo, desistiu. Depois de fugir da Alemanha nazista para a França e quando esta foi ocupada para a Espanha. Quando chegou a fronteira tinha sido fechada. Se matou. No dia seguinte a fronteira foi reaberta. Assim foi Frei Tito, e tantos outros.

Falamos aqui de outra desistência. Daqueles que desistiram de si mesmos. Daqueles que traindo por medo ou oportunidade tudo o que acreditam, passam a viver como almas penadas envergonhando a quem os comprou e a quem ele vendeu. 

Mas esta estirpe enorme dos que não se rendem, que teimosamente não traem a si, ou a todos seus companheiros temos que celebrar. O enorme Genoíno preso, quase morto, e jovem  como um revolucionário. Lula, preso e vilipendiado e que hoje assombra as noite e dias de quem traiu e de quem comprou a traição. Cada um de nós, que com pressão inenarrável, nos mantivemos firmes. 

É bonito hoje olhar nos olhos do companheiro ao lado e saber que valeu a pena sofrer. Estamos de novo aqui para assombrá-los e para fazer a felicidade.

Apesar de você….(vocês sabem a música)

  • Luiz Felipe Nelsis é um resistente

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