Participação em tempos modernos | Luiz Marques

O ex-presidente da Associação Internacional de Ciência Política, Jean Leca, nos idos dos anos 1990, comentou em uma ocasião que o Orçamento Participativo (OP) originário de Porto Alegre evocava os sovietes russos, porém, em uma conjuntura não revolucionária. Para o renomado professor da Sciences Po, esse traço distintivo transformou a capital gaúcha em sede do […]
Crise – o escudo neoliberal | Luiz Marques

No Dicionário do pensamento social do século XX, organizado por William Outhwaite e Tom Bottomore, editado em Oxford e vertido três anos depois para o português (1996), há um verbete sobre “crise”. Nele, se lê: “em toda crise os envolvidos confrontam-se com a questão hamletiana, ser ou não ser”. Em grego, a palavra krisis não […]
O general, o médico e o magistrado | Luiz Marques

O rol das relações de um democrata exclui os seduzidos pelos instintos primitivos do neofascismo. Aqueles que reivindicavam o novo iluminismo. Mas adotaram discursos obscurantistas contra a ciência e o conhecimento. Tomavam vacinas na tenra infância (sarampo, caxumba, poliomelite). Agora, disseminam narrativas negacionistas. Pregavam políticas em prol da comunidade. Num passe de mágica, encarnaram a […]
O ciclo da insanidade à barbárie | Luiz Marques

O vocábulo niilismo aparece no romance do escritor russo Ivan Turguêniev, Pais e filhos, em 1862, época que a servidão foi abolida na Rússia e em que se formou o movimento Terra e Liberdade contra o czarismo. A geração que participou da Revolução de 1905 leu o livro. O niilismo designa a negação das tradições […]
A dialética existencial da esquerda | Luiz Marques

O notável legado da Revolução Francesa foi a aspiração pela igualdade, que transformou os súditos (com deveres) em cidadãos (com direitos). O desafio contemporâneo é metamorfosear a igualdade política alcançada em uma paridade social, econômica e cultural. Hoje, tais dimensões exprimem as desigualdades fáticas da sociedade, ao lado das igualdades formais conquistadas no século XVIII. […]
O novo tempo da política | Luiz Marques

Um dos grandes intérpretes do Brasil, Caio Prado Jr., sublinha que a colonização esteve desde o início subordinada ao ritmo de desenvolvimento do capitalismo global. A modernização do país herdou um caráter dependente. Nos anos 1990, o protoneoliberal Fernando Collor de Mello deu a largada nas privatizações e aumentou a dependência dos centros dinâmicos. O […]
Os direitos e as big techs | Luiz Marques

No Dictionnaire de philosophie politique, organizado por Philippe Raynaud e Stéphane Rials, o verbete “Droits de l’homme” sublinha que a noção de direitos é inseparável do pertencimento à coletividade, que transfere para o indivíduo um reconhecimento como pessoa moral com direito a ter direitos. Há duas maneiras de abordar a questão. A antiga remete a […]
Cem dias: imaginação ao poder | Luiz Marques

Para abordar os cem dias do novo governo, há que situar os acontecimentos no tempo e no espaço. Em Como as democracias morrem, Steven Levitsky & Daniel Ziblatt listam quatro indicadores de comportamento autoritário em candidaturas que se apresentam enquanto outsiders em eleições: (1) a rejeição ou relativização das regras democráticas; (2) a negação da […]
A odisseia do igualitarismo | Luiz Marques

(Comentário sobre o livro Uma breve história da igualdade, de autoria de Thomas Piketty) Thomas Piketty publicou, em duas décadas, três obras muito importantes sobre a desumanidade no capitalismo: As altas rendas na França do século XX; O capital no século XXI; Capital e ideologia. Cada uma delas contendo quase mil páginas. Em 2021, lançou […]
Seis pilares da democracia | Luiz Marques

Após o século XVIII, com a destruição do regime fundado sobre a hereditariedade, o direito divino e os privilégios aristocráticos, a democracia foi vinculada à presunção do governo do povo para o povo. Dois séculos adiante, a Société du Mont-Pèlerin (Hayek, Mises) erigiu a liberdade individual como valor supremo. Desde então, as liberdades coletivas e […]
O espectro da infocracia | Luiz Marques

Byung-Chul Han é um sul-coreano que leciona na Universidade de Artes, de Berlim. Ganhou projeção com a publicação de vários ensaios curtos sobre temas contemporâneos. Em Infocracia: digitalização e a crise da democracia, esboça uma descrição do poder sob o regime de informação e processamento de algoritmos com inteligência artificial para controlar a sociedade, a […]
Refazendo a história | Luiz Marques

Nascido na Martinica, Aimé Césaire (1913-2008) é o mais importante poeta surrealista. Na década de 1930, época em que estudou em Paris, escreveu no jornal L’Étudiant Noir o artigo “Nègreries: conscience raciale et révolution sociale”, no qual formula o conceito de “negritude”, no sentido de ideologia e/ou ontologia. Na síntese de Jean-Paul Sartre, “contra a […]
Dialética dos direitos de cidadania | Luiz Marques

A última revolta antes da declaração de Independência do Brasil aconteceu em Pernambuco (1817), encabeçada por militares de alta patente, comerciantes, senhores de engenho e padres que se diziam patriotas. Inspirados na maçonaria, proclamaram uma república autônoma que unia Pernambuco e as capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Sobre o escravismo, que […]
Necropolítica e racismo | Luiz Marques

“Correntes nunca mais.” – Glória Maria – Achille Mbembe é um filósofo camaronês que, no início do século XXI, publicou um pequeno ensaio em inglês intitulado Necropolitics. Traduzido para o português, em 2018, soma mais de uma dezena de reimpressões. Virou um grande best-seller do pensamento. Necropolítica discute o atributo fundamental da soberania: “exercer o […]
Patriotas versus Cidadãos | Luiz Marques

Entre as revoltas que precederam a declaração de Independência do Brasil, a Inconfidência Mineira (1789) refletiu os valores iluministas do século XVIII e a experiência das colônias da América do Norte. Os líderes descendiam da “casa grande” – militares, fazendeiros, magistrados, padres, poetas. À semelhança da Revolução Haitiana (1791), a rebelião mais popular foi a […]